Quem não conhece nada de Rudolf Nureyev precisa urgentemente ver esse filme, nem que seja pela sua importância histórica no mundo da dança. O nome do filme – White Crow – dá a exata dimensão da raridade dele enquanto talento – algo como ver um corvo branco. Nureyev foi algo nunca visto antes, uma abordagem do balé masculino que parecia dominar a “velocidade normal da queda gravitacional dos corpos” – todos os saltos altíssimos que dava pareciam acontecer em câmera lenta, todas as piruetas pareciam estar em câmera rápida, a graça do gesto, a força dos movimentos, a impulsão que o fazia “voar” diante de nós.
Exatamente por isso seria impossível refazer a magia de seu balé em todos os momentos – nesse sentido, Ralph Fiennes foi bastante hábil em colocá-lo como um hábil observador da arte, como um olhar ágil que devorava cultura, com incursões curtas na relação que certamente seria feita entre o desempenho do ucraniano Oleg Ivenko e o de Nureyev – e não pelo fato de Oleg não ser extremamente talentoso, mas porque Nureyev era genial.
... E genioso, temperamental – eu não sabia que o temperamento dele beirava o tempestuoso. Mas com um elenco que passa ao seu redor, no filme, quase que executando papeis secundários, White Crow aponta para tentativas sucessivas do sistema ditatorial soviético de “achatar-lhe” a personalidade, obter de si respostas convenientes, simpáticas, neutras, dentro do fluxo – aplacando-lhe o gênio, a resposta pronta, o desaforo na ponta da língua – o que não resultou em nada além de um pedido de asilo político, na França.
White Crow poderia ter nos deixado um momento de dança com o Nureyev real – isso foi imperdoável. Mas o “revival” de sua carreira incrível, da miséria, que desenvolveu a determinação em ser mais que o melhor – ser inesquecível – vale cada minuto.
Para os “esquecidinhos”, vale também aproveitar o momento dançarinos incríveis e pesquisar no Google um pouco sobre Mikhail Baryshnikov. Mas, sobretudo, assisti-los dançando é quase que uma obrigação – tanto quanto ver uma obra de Rodin, uma tela de Da Vinci, uma corrida de Usain Bolt – nós precisamos da genialidade para tornarmos nossa vida um pouco mais leve, para a carga de viver, que a tensão da vida obtenha momentos de premiação máxima.
Por isso, vale cada minuto.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O maior bailarino de todos os tempos, Rudolf Nureyev, mesmo numa infância muito humilde, teve uma mãe que lhe abriu o caminho da dança. Levava os 4 filhos – 3 filhas e o caçula Rudolf - a bailados sempre que tinha dinheiro para um bilhete. Impressionante o que uma mãe, ou uma outra pessoa de bem pode fazer para abrir caminhos de felicidade e sucesso às crianças pobres.
Um nível físico, de coordenação, de equilíbrio, de expressão, únicos. Tanto talento, tanto pensamento próprio num país ditatorial, lhe trouxeram muita inveja, muitos problemas e muitos dissabores.
O filme se concentra em alguns momentos fundamentais da sua vida: momentos da infância, momento em que pediu asilo político em Paris. Emocionante! O roteiro parece um pouco perdido de vez em quando, talvez pelo desejo de contar todos os pormenores de uma vida tão cheia de histórias e momentos importantes. Ralph Fiennes é o diretor, um dos produtores e um dos atores, falando em russo em imensas cenas. Impressionante!
Nureyev era um homem muito culto, conhecedor da arte em geral, curioso, trabalhador e isso o filme também mostra. Ficaram por dizer e mostrar tantas facetas da sua vida que dá vontade de pedir para fazerem uma série, com várias temporadas. Eu estaria na primeira fila assistindo, com toda a certeza e conheço muitas pessoas que fariam o mesmo. Que tal a ideia Hollywood?
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: A historia de como o bailarino Rudolf Nureyev escolheu o Ocidente à União Soviética.
Diretor: Ralph Fiennes
Elenco: Ralph Fiennes, Oleg Ivenko, Louis Hofmann
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt5460858/