Quem não gostar daqueles filmes super psicanalisados, com mil e uma possibilidades de interpretação, não vai gostar de A FILHA PERDIDA, dirigida por Maggie Gillenhaal. Baseado no livro no livro com o mesmo nome, de Elena Ferrante, a direção nos leva pra norte, sul, leste e oeste da culpa de uma mãe – que claro – fica mil vezes de “saco cheio das filhas” porque criança é fogo – e leva um filme inteirinho pra equacionar o que fez, as opções que a levaram pra outros lugares e que depois a trouxeram de volta.
Quando se pensa em cenário e a sinopse fala em Grécia, tomamos aquelas ilhas paradisíacas como exemplo, mas não é nada assim também. É uma praia, turistas desagradáveis à vontade e o reviver das memórias e recalques de Leda, numa interpretação profunda, cheia de contrassensos e tropeços de Olivia Colman e Jessie Buckley - que pode sim render um Oscar pra cada uma, nos dois momentos históricos da personagem principal.
Há cenas onde você nem entende porque tem aquela sensação de suspense no ar porque as personagens vão aparecendo e desaparecendo e só com o tempo você começa a separar o passado do presente. Há coisas que acontecem e no momento em que ocorrem parecem ter muita importância, mas depois Leda mostra o que tentou esconder.
A montagem parece de vez em quando que vai descambar pra thriller psicológico, mas na verdade é aquele mergulho desigual que fazemos ao entrar na nossa mente.
Você sai do filme com a cabeça “meio mastigada” por tudo o que aconteceu, mas como eu digo sempre “somos seres complexos”. Não dava pra entrar e sair da cabeça de Leda de um jeito confortável.
O filme vai concorrer ao Oscar com chance de ganhar prêmio de melhor atriz, de melhor atriz coadjuvante e pode ser que a direção – com aqueles close ups que fazem a gente segurar a respiração, mais a exposição do tema maternidade (onde nem as mães, nem ninguém consegue amar incondicionalmente 24 horas por dia), pode render outra estatueta também.
Respirem fundo porque depois tem papo cabeça, com certeza.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Filme denso. Não te diz diretamente o que quer que penses, nem o que quer que questiones. Costumava chamar a estes filmes, alternativos. Não se definem. Te dão portas abertas e és tu que viajas nos teus pensamentos, tuas dúvidas, crenças. Te aponta as questões da mulher, da mãe, da amante, da mulher independente, da mulher com sucesso profissional e intelectual. Fala do espaço que ocupa o nosso passado, principalmente se foi doloroso. Das diferenças culturais. Da busca da felicidade na forma como a sociedade ou as amigas indicam e o abismo entre o que o nosso coração sente e procura. Aborda, afinal, assuntos importantíssimos que nunca são abordados. Um filme que deve ter de seguida uma boa conversa, aberta, sem censuras. Para que as pessoas falem do que sentem, verdadeiramente do que sentem.
Um desempenho de Olivia Colman e de Jessie Buckley, enquanto Leda, sensacional! Uma surpresa enorme ver Maggie Gyllenhaal, dirigindo um filme tão diferenciado, original. E as 3 nomeadas aos Óscares de 2022. Acho que não deve perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: As férias de uma mulher na praia tomam um rumo sombrio quando ela começa a enfrentar os problemas de seu passado.
Diretor: Maggie Gyllenhaal
Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson
Trailer e Informações: