Os filmes indianos são extremamente musicais – este não foge à regra. Porém, o marcante de SRIKANTH é a história – verídica – de um menino que socialmente era melhor visto, se estivesse morto e que contra todos os prognósticos e expectativas, venceu barreiras políticas, educacionais, de convívio, nascidas de preconceito - puro e simples.
Quanto pode um cego? Diferentemente de uma pessoa que vê, ele precisaria de espaços especiais, vagas especiais – mas não na Índia, que sequer permitia que ele tentasse competir com o mundo dito normal de igual pra igual. Apenas estava na lei que “tendo uma deficiência, se tem uma incompetência, uma impossibilidade”.
Todo o filme fala desse tsunami de inteligência e iniciativa – SRIKANTH – que quebrou todas as barreiras e fraquejou apenas quando caiu diante de sua vaidade, seu próprio orgulho – numa história sensacional, que deve ser partilhada com as famílias juntas, usando a vida dele como exemplo, como estímulo diante de dificuldades.
Ah, sim – ele ficou rico. Os mais descrentes que precisarem do incentivo do dinheiro, lá o terão. Mas terão também interpretações riquíssimas, destacando Rajkummar Rao e Jyotika, que deram um show minimalista na construção de suas personagens. O filme tem uma produção cara, muitas locações, muitos atores, muito mais figurantes, tomadas diferenciadas. Mas com todo esse capricho, destaco a história, que é incrível (sendo da vida real) e a construção das personagens.
Pra quem reclama da garoa que atrapalhou a viagem ou da pedrinha que magoou o pé, é um bom caminho de retomada de seu centro de força para novos impulsos. Não perca!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A Índia é um país muito silencioso no planeta. Pouco se ouve falar deles. Sabemos que é o país com a maior população – em 2022 tinha 1,417 bilhões de habitantes. Mas aos poucos, pelos filmes, pelos livros, vamos percebendo que têm problemas enormes de igualdade de direitos em relação ao gênero feminino, em relação às pessoas com deficiência, por exemplo.
Neste filme, acompanhamos o percurso profissional do industrial Srikanth Bolla, invisual. Sri, como ele refere no filme, teve e tem pessoas incríveis do seu lado. Não se faz nada sozinho e reconhecer o valor dos que nos rodeiam é importante e valioso. Seus pais, sua professora, a namorada, o sócio e muitos outros. Sri sofreu muitas humilhações, viveu muitas dificuldades e estas pessoas sempre lhe filtraram sua raiva, vaidade, até desejo de vingança. E ele, ambicioso, estudioso, trabalhador e visionário, conseguiu fazer coisas extraordinárias. Um exemplo para qualquer pessoa que perde a esperança.
Um roteiro bem ao jeito de Bollywood, narrando partes do seu percurso de vida com canções. Bons atores e um detalhe interessante – os personagens crianças e jovens que fizeram de Sri eram mesmo invisuais. Uma excelente ideia, de inclusão, de justiça e de lógica.
O filme e a vida de Sri permitem várias reflexões importantes. Um filme que pode e deve ser aconselhado nas escolas, com debate no final. A sociedade não percebe como cria dificuldades para pessoas com deficiência e como poderia ser tão fácil se todos dessem uma ajuda, colaborassem, antecipassem problemas. Temos medo imediato quando falha a eletricidade, medo de cair quando caminhamos no escuro. Como Sri conseguiu o que conseguiu? Precisamos colaborar em sociedade para que existam mais pessoas como Sri.
Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um homem com deficiência visual supera obstáculos extremos na escola e no trabalho nesta cinebiografia sobre o industrial Srikanth Bolla.
Direção: Tushar Hiranandani
Elenco: Rajkummar Rao, Jyotika, Alaya F
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt23790740/
https://www.netflix.com/br/title/81631011