Como a gente está ficando cada dia mais disperso, nos habituamos a filmes cada vez mais construindo ações intrincadas, em sistemas complexos, que perpassam e ultrapassam a ação ao redor do(s) protagonista(s). Os Avengers mesmo tem um monte de protagonistas em ações simultâneas.
Não acontece nada disso em SIR – ou A COSTUREIRA DE SONHOS. Toda a ação está ao redor da vida de Ratna e dos problemas (inúmeros) que ela tem – o que elenca a questão da indelicadeza do poder ao se relacionar com castas inferiores, da injustiça de ainda termos que conviver com castas, da posse que a família do marido possui sobre a esposa - mesmo depois de sua morte, dos sonhos e da enorme distância entre sonhar e ter que admitir que não há muito espaço nem para sonharmos, às vezes. Mas também que o único sentimento que supera adversidades continua sendo o amor. Parece pouco diante das superproduções? Pois não é, diante do que precisamos enquanto humanos; essa simplicidade vale ouro pra nós, cada vez mais combalidos com um mundo onde as pessoas cospem como são superiores, como são influentes, como são maiores, melhores, mais, mais, mais. E se existem tantos novos “in” e se o sonho de todos é ser “in”, o mundo não consegue- porque não quer, não pode - igualar diferenças.
Nisso o filme é primoroso. Aí surge o amor e alguém finalmente percebe como os mundos são e foram feitos para serem separados; aí alguém tem motivo para perguntar ao mundo onde afinal está a diferença entre as pessoas, se não é no caráter, se não é na sua forma de estar aqui.
Eu adorei o filme, adorei os silêncios e os constrangimentos, adorei os olhos baixos, a timidez. Adorei tudo.
Quem não for e gostar de ver o amor vencer, ainda que constrangido, CERTAMENTE, vai perder!
ANA RIBEIRO
Diretora de teatro, cinema e TV
Um filme lindo. De esperança, de sonhos, seja qual for o nível social e lugar onde você nasceu. Lemos e falamos muito acertadamente sobre esses temas, mas na realidade as sociedades são cheias de preconceitos estimulando uma parte das pessoas a avançar e a outra parte a apenas sonhar. Uns são protegidos, os outros não. Um mundo que parece justo para os que são protegidos. Mas que é tremendamente injusto para os outros. A Índia é um país onde todas as religiões convivem. Algo bom e que é cada vez mais difícil nos outros países. Mas com regras em relação ao casamento, obrigações da mulher solteira, casada, viúva, as castas, que precisam mudar para o bem de todos os seres humanos. Nenhuma pessoa tem mais valor do que a outra. As pessoas vieram viver a sua vida, seguir seus propósitos. Não vieram se comparar nem querer mais do que as outras. Aprendizagens erradas que atrapalham muito o mundo.
O filme passeia pela adorável comida indiana, pelos fantásticos tecidos coloridos, pela paixão de costurar e criar, pelo mundo rico da construção, pelo mundo pobre nas ruas, nas habitações, nos transportes. Pelas pessoas que, apesar de todas as dificuldades, não desistem dos sonhos. E, de vez em quando dão mais um passo, resistem, por vezes precisam de recuar, voltam a dar outro passo e assim vão em busca do que vieram fazer a esta vida. Combatem a inércia e rompem o esperado pelos outros. Porque buscam o que desejam, o seu chamado. São os verdadeiros heróis.
Nós que já tínhamos a honra de ver e fazer crítica dos filmes do Circuito Saladearte, agora também o passamos a fazer com os filmes do Espaço Itaú de Cinema de Salvador. O Bug Latino, eu e Ana Ribeiro, estamos muito gratas.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt7142506/
Site de filmes do Espaço Itaú de Cinema em Salvador
https://www.ingresso.com/salvador/home/cinemas/espaco-itau-de-cinema-salvador#!#data=20190529