Mais um filme onde as protagonistas enfrentam – mais que o preconceito – a indiferença, a invisibilidade social masculina e apenas vencem – se tornam heroínas nacionais, num esporte que pra nós, brasileiros, é muito difícil de entender a regra, mas não as medidas morais – o críquete.
A Índia ama esse jogo. O machismo indiano venera os homens que jogam esse jogo – e essa poderia ser a nossa história, se não fosse por Shabaash Mithu, que quebra a banca, muda o ponto de vista, enfrenta todos os desafios.
A Mulher de Azul repete o roteiro do talento excepcional de alguns para quebrar parâmetros – mas é importante que os jovens acreditem que podem e devem investir nas diferenças, muito mais do que na imitação do que existe. Olhar os cursos que existem na internet é melancólico, eu diria. Todos “dão” uma semana que chamam de perfeita – e “grátis” - onde tentam omitir o maior número possível de informação. O “Fala Galera” virou um chavão, mas onde está a mensagem, a passagem de conhecimento?
“Fique rico, seis dígitos em uma semana, seja seu próprio chefe” – o que pode ser comparado com: mulher não joga esse jogo, isso é coisa de homem, mulher tem que pensar em casamento.
Com ética inabalável, Shabaash Mithu diz “não, obrigada” e parte pra cima do sistema – e o vence. Seguiu seu amor pelo esporte contra a opinião de (quase) todos e conquistou o amor da torcida.
Meio infantil, às vezes, mas adequado para que as novas gerações se vejam com emoção, com respeito e nos reapresentem nossos valores sem retoques, mas cercados pelo novo.
Por tudo isso, pelo início inacreditável do filme – numa velocidade incrível – vale assistir com os filhos, principalmente se forem adolescentes – porque seguir seu sonho importa muito, se para além do dinheiro, você vai querer ser feliz nessa vida. E afinal, para quê vai te servir o resto, se não se sentir pleno e feliz com o que é, o que faz?
Vendo os “meninos mimados” em que se transformaram os jogadores de futebol da nossa seleção, homens que não conseguem articular pensamentos com clareza e vivem se jogando pelo chão sofrendo e gemendo por “faltas imaginárias”, se olhando no telão com cabeleireiros particulares como peças imprescindíveis na seleção, seria bom ver o filme se perguntando: O que se quer ali? Defender o seu País ou se vender mais caro no próximo contrato? Ser um exemplo nacional ou se mostrar nas redes sociais?
Como dá até medo de responder, vale demais ver.
ANA RIBEIRO
Um bom filme que não pode perder de nenhuma forma – principalmente se for mulher. Um pouco longo, sim, um pouco romantizado ao jeito indiano, sim – com suas músicas e imaginário muito característico - mas com mensagens importantíssimas para as nossas vidas. Simplesmente sensacional.
Amo o jeito poético dos roteiros dos filmes indianos. Amo a forma como utilizam o audiovisual para quebrar regras, comportamentos, normas de uma sociedade ainda muito machista e muito preconceituosa. É bonito ver esse confronto com normas muito enraizadas, que prejudicam muito a felicidade e o bem estar da sociedade, principalmente as mulheres.
Este filme me tocou especialmente porque me vi e vi muitas mulheres que se dedicaram ao esporte, e que para isso, precisaram fazer escolhas difíceis e aceitaram perder muito para tentar chegar onde sempre sonharam. Que muitas vezes se enfraqueceram e recuaram, que muitas vezes a sociedade não lhes deu reconhecimento, que muitas vezes perderam oportunidades profissionais, pessoais. E que, por não desistirem, mesmo parecendo aos olhos dos outros que eram loucas, etc, alcançaram o que ninguém tinha alcançado, sozinhas ou com poucas pessoas do lado. E nesse momento, de sucesso e glória, os mesmos que não acreditaram e tudo fizeram para impedir, são os mesmos que mais tarde ou mais cedo reconhecem o talento daquelas pessoas.
Aqui, acompanhamos o percurso de vida de Mithali Raj, capitã da seleção feminina de críquete da Índia de 2004 a 2022. É a maior artilheira do críquete internacional feminino e considerada uma das maiores jogadoras de todos os tempos. Uma menina diferenciada, com uma luz interior diferente. Que se tornou uma mulher muito importante no seu país, mas que ralou muito por isso, tanto no campo, como fora dele na procura de respeito, apoio, visibilidade, reconhecimento, condições mínimas de treino e de viagens, para todo o time. Uma maturidade que precisa ser uma referência para outras meninas e para os pais que as educam.
Tem muito ensinamento importante: o que a amiga – igualmente luminosa - lhe ensinou em menina, o que seu primeiro treinador lhe ensinou sobre cricket/críquete e sobre a vida, a forma como os elementos da sua família reagiram, como enfrentou as dificuldades, etc.
Belo, necessário, importante, cativante. Deveria ser visto por todas as meninas, mulheres que desejam ser esportistas, artistas, etc. De todos os países. Na verdade, todas as mulheres de todas as idades que têm sonhos por cumprir. Porque eles podem ser alcançados. Seja em que idade, em que circunstâncias, em que momento.
Mais uma vez o cinema fazendo um trabalho maravilhoso de educação, de divulgação de bons exemplos – experiências vicariantes. Tudo isso é tão importante para as mulheres, mais ainda neste momento. Nossa, tem tanta coisa boa neste filme, na vida desta grande mulher, mas não posso contar tudo para vocês. Não percam a possibilidade de assistir!
Ana Santos
Sinopse: Um filme biográfico baseado na vida e nas lutas de Mithali Raj, jogadora de críquete indiano e capitã do time de críquete nacional indiano.
Direção: Srijit Mukherji
Elenco: Taapsee Pannu, Vijay Raaz, Inayat Verma.
Trailer e informações: