É terrível quando um filme é aclamado pela crítica e você cria sem querer uma enorme expectativa em torno do que vai ser contado, o que vai sentir, quais momentos vai achar mais emocionantes e... só.
Creio que por ser brasileira, por viver num país onde todas essas coisas massacrantes e que chamam a atenção no mundo inteiro, aqui são só rotina, tenha achado Roma um filme que poderia ter tocado naqueles pontos de maneiras muito diferentes, de tal modo nos chamar a atenção sobre elas.
Tinha uma coisa de ditadura importantíssima que ficou diluída na nossa violência comum, do dia a dia aqui no Brasil e na truculência da nossa polícia. Até pra criarmos alguma relação de pensamento acerca da “direitização” do mundo ficou difícil porque o assunto foi apontado de forma indiretíssima.
A evolução das relações também não apareceu com objetividade, o que tornou o filme algo em torno de coisas, rotinas, tempo, pessoas e aquele cachorro bacana que precisava ser educado pra fazer cocô na rua e acabar com a válvula de estresse escolhida pela família...
Se eu não fosse brasileira – acostumada à barbaridades e corrupções diárias - ou se o filme não tivesse sido colocado no alto da montanha onde moram os gênios e os sensíveis, talvez. Mas não senti a ação verbal desencadear nada dentro de mim, não me percebi imaginando nada além do momento em que as crianças vão nadar, sem saberem nadar, não torci, não senti... e queria ter passado por tudo isso. O fato de ter assistido pela TV talvez também tenha contribuído para a falta de magia, mas foi isso mesmo: preto e branco por fora e por dentro.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A delícia do filme a preto e branco. A época retratada de forma muito encantadora. Os silêncios, mobília, forma de lavar a roupa, roupas, costumes.
Como disse o diretor, é um filme dedicado à empregada que trabalhava em sua casa e que cuidava da casa e de todos, quando ele era menino. Por vezes, ela não tinha tempo nem possibilidades de cuidar de si. Uma casa enorme para cuidar, com cachorros e com várias crianças. Sempre disponível, sempre atrasada para o tanto que sempre era preciso fazer. Sempre em falta para quem vê, sempre cansada para quem faz. Por vezes invisível, por vezes parte da família. Por vezes desrespeitada, por vezes salva.
Muito fofa a ideia de agradecer a alguém que foi tão determinante na tua vida e tu tens essa noção. Por que muitos de nós nem pensamos na importância que algumas pessoas tiveram na nossa vida. E lembrar, ter a noção e agradecer, é bom. Parece que fecha uma espécie de ciclo. E, neste caso, a pessoa que o diretor decide agradecer, é normalmente invisível. E ele a tornou visível. Lindo. Nobre. Belo.
Vivo atualmente num lugar onde essas pessoas invisíveis, seguram e estruturam famílias. Todos os dias. São apenas elas que circulam entre as 5h e as 6h caminhando pela rua em direção ao seu trabalho. Mas poderíamos dizer, em direção à sua família “de cuidar”. Educam os filhos, marcam as rotinas, alimentam todos, das famílias ricas e poderosas da cidade. No final do dia também se vêm caminhando para casa, mais ou menos no mesmo horário. As espera a sua verdadeira família, para de novo, marcarem rotinas, alimentarem, cuidarem dos seus filhos. São estruturas humanas da cidade. Elas vivem na comunidade e sustentam as famílias das zonas nobres e luxuosas da mesma cidade. Às vezes o marido se torna o motorista, o jardineiro, o pedreiro, etc. Muitas vezes me pergunto de quem é o poder. Quem manda, quem decide. Os cuidadores são e serão os pilares da vida de cada um de nós.
Importante e chocante também, a forma crua como o filme apresenta uma situação ainda hoje frequente e terrível de homens que quando sabem que a namorada está grávida, desaparecem. Louco.
Este filme foi muito falado e muito premiado antes de eu o assistir. Criei muitas expetativas. Errei porque esperava mais do que o filme me deu quando fui assistir. Achei que tem algumas falhas de roteiro ou de lógica em alguns momentos. Mas vale muito a pena ver.
Ana Santos, professora, jornalista.
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt6155172/
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