Eu me lembro perfeitamente de Jose de Arigó e ele muito me impressionava com aquelas cirurgias incríveis que a gente via – desde pequenininhas – pela TV, em casa. Os anos passaram e a TV – aquele móvel que tinha hora pra ser ligado – agora é uma coisa tão banal que a gente escolhe o tamanho da tela, os cômodos, escolhe entre centenas de canais, fora os milhares da internet. Mas ver de novo a forma “exposta”, a energia explosiva de Arigó foi de novo impressionante.
Primeira coisa: ele existiu e abriu discussões importantíssimas sobre o que pode fazer a fé, como as religiões competem inutilmente entre si até hoje e como um chamado como esse não tem como ser ignorado. Não por ser advindo do espiritismo – Jesus era judeu e foi chamado a falar de uma forma nova do exercício da fé, morreu por isso e dessa relação surgiu o cristianismo e suas mil vertentes – que de alguma forma insistem em competir entre si.
Claro que não estou comparando José de Arigó com Jesus, gente – mas é preciso uma coragem extrema para sair do sistema e criar o novo. Isso em qualquer área. Se envolve Deus então...
O filme é forte, mesmo com problemas de áudio que atrapalham muitas vezes a percepção do que é falado. Pra não ter esse problema, eu coloquei legenda. Danton Mello está fenomenal. Eu gosto demais dele como ator, com uma explosão incrível e, ao mesmo tempo, um nível de fragilidade e entrega que pode ser percebido como total. Marcos Caruso dando show de interpretação, Juliana Paes espantosamente diferente, com problemas de dicção, mas mergulhada num tipo de interpretação que eu nunca vi, nela. Mateus Fagundes, que faz o filho mais velho de Arigó, Tarcísio, é excepcional. Não o conhecia e fiquei em êxtase.
A história é impressionante e mesmo com esse problema cada vez mais recorrente aqui no Brasil que é a falta de trabalho articulatório específico para o exercício do idioma extra-ordinário do ator, você fica vidrado na tela. Os mais velhos, como eu, vão se lembrar nitidamente da história. E nesse momento do mundo, onde cada pessoa parece antever o futuro só se estiver sendo a protagonista nele, ver a humildade, a entrega, mas ao mesmo tempo, a firmeza do exercício da fé, abre espaço para que repensemos um pouco mais sobre a validade do que está acontecendo entre evangélicos e filhos de santo – se há um só Pai, será mesmo que Ele gostaria de ver filhos querendo obrigar seus irmãos a professarem a mesma religião a força, quando a fé é a mesma? A forma, a embalagem teriam prioridade de uma sobre a outra? Será que Deus pensaria nisso como certo?
Vejam o filme, pensem nisso, conversem em casa. A força da fé é impressionante e vai tocar a todos.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Não conhecia a história de vida, nem nunca tinha ouvido falar nesta pessoa tão especial. Já tinha visto um filme sobre a história de vida de “Chico Xavier” e percebi neste filme que foram amigos. Talvez porque eram ambos vistos, por muitas pessoas, como charlatões. Talvez porque os dois pareciam ter uma missão neste mundo que os ultrapassava, enquanto indivíduos.
Quando era mais nova tinha dificuldade em perceber, aceitar e dar valor a estas pessoas que dedicaram toda a sua energia a ajudar os outros, sem interesses financeiros, muito menos pessoais. Tinha uma missão que os engolia, por vezes até asfixiava. Algo maior de eles próprios. Depois de um momento da minha vida, mais difícil, comecei a abrir um pouco mais meu pensamento e meu coração para estas situações e vidas. A vida realmente não é a preto e branco, nem é só o que vemos e o que sabemos. Tudo o que é fora do padrão, nos causa estranhamento. Mas hoje percebo claramente, que a grande divisão das pessoas e da vida é entre os que vivem desejando o bem aos outros e os que vivem tentando aproveitar-se dos outros. Essa é a grande divisão.
É um filme muito importante, uma história de vida que deve ser conhecida fora do Brasil – imagino que no Brasil seja muito conhecida.
Gosto muito de Danton Mello, dos seus desempenhos e dos personagens que aceita fazer. Intenso, expressivo, com aquele sorriso que começa pelo canto da boca. Interessante ver que tem atores com desempenhos breves, mas soberbos, como o guarda prisional, o filho mais novo em adulto. Atores intensos, mas de expressividade simples, sem exageros.
Interessante ver que se repete a insistência de muitas pessoas em negar, em apontar, em acusar...e depois de anos e anos, aceitar e até pedir ajuda. Eu sempre me pergunto porque a maioria das pessoas grandiosas na vida precisam de fazer o caminho das pedras toda a vida e muitas vezes só quando morrem é que são valorizadas? Que cegueira preconceituosa é esta que atrasa a nossa existência?
Não perca o filme.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Arigo, um pai de seis filhos, sem instrução e felizmente casado, é escolhido por uma força para se tornar um cirurgião espiritual. Curando pessoas desesperadas, ele enfrenta o desprezo da profissão médica e de sua amada igreja católica.
Direção: Gustavo Fernández
Elenco: Danton Mello, Juliana Paes, Marcos Caruso.
Trailer e informações: