Uau! Se no início você tiver a impressão que é um filme introspectivo, que vai falar sobre a solidão urbana, fique com a mão no câmbio porque num dado momento vai ter que passar “uma segunda” na sua emoção.
O argumento te ilude, no início, com umas falas que acendem uma luz amarela, no entanto: “o vício em violência é pior do que em drogas”, por exemplo, é estranho de ouvir, dentro do desenho do filme, a escuridão, a solidão, a forma como ele se dedica a fazer o bem. Quando a gente relaxa e deixa as frases contraditórias na conta de algum erro – bum! – O nível de sanguinolência deixa a grande maioria dos sangrentos pra trás e sobe em outros patamares.
Adrien Brody teve poucas companhias no quesito construção de personagem, embora ele tenha sido mais um vez perfeito – achei o elenco over, embora estivesse sempre em segundo plano. Mykelti Williamson, ao contrário, esteve muito bem, numa construção bem estruturada, discreta, mas intensa.
O sangue quase me melou toda, miolos e carne picada viraram “pipoca” de tão comuns, mas de alguma forma, vale pensar se afinal somos o lado de nós que focamos, apenas – o que coloca a quantidade de perversões violentas e histéricas que vemos no dia a dia, no lugar exato que ocupam – o de perversões. Podemos ser melhores do que aquilo que a internet nos mostra – e cá entre nós – 700 mil seguidores pra radicais que dão tiro em bonecos de cartolina, enquanto gritam histericamente, realmente me levam a pensar que existe um segmento humano muito estranho entre nós, no Brasil.
Se eu soubesse do nível de violência, acho que não veria. Não que o filme seja mau. Ele é apenas desnecessário, talvez.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Chamou-nos a atenção o fato do ator principal ser Adrien Brody, vencedor do Óscar de melhor ator à uns anos atrás. O nome do filme nos afugentou mas mesmo assim decidimos assistir.
O filme começa nos envolvendo e nos convencendo que é intenso e sensível. Mas a partir de um determinado ponto ele, o filme, se torna importante de assistir por ser, mais uma vez, uma forma de justificar, proteger, perdoar até, a violência profunda. Veja, o protagonista nos avisa que é viciado em violência, que esse é o pior dos vícios. Aí já nos inquieta. Mas ele nos aparece como alguém “perfeito”. Calmo, trabalhador, generoso, justo, intenso. Até ao momento em que o filme quase que nos diz que os limites da sua bondade já foram tremendamente ultrapassados. E aí, vira um filme “rambo”. É preocupante esta forma humana, social e audiovisual de justificar a violência. Sim ele viu muitas coisas erradas, sim ele tentou, sim a vida não foi justa com ele, mas cada um de nós que não tem justiça na sua vida, e somos muitos, tantos e tantos, vamos sair por aí a matar, destruir, etc? Que loucura! Fico triste porque amei os filmes que este ator fez, “O pianista”, por exemplo, foi uma obra prima. Fico triste porque a menina e a criança são lindas, belas, mas a adolescente e o grupo de atores são muito previsíveis, pouco intensos. Não sei se é a direção de atores, o roteiro, ou a sua formação. Sei que fiquei com muita pena porque esperava um filme com outro objetivo. Nada justifica a violência, o assassinato, a agressão, a destruição. Precisa existir sempre um outro caminho e precisamos de insistir nisso a todo o momento.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Assombrado pelo seu passado, um homem sujo chamado Clean tenta uma vida calma de redenção. Mas logo se vê obrigado a aceitar a violência do seu passado.
Diretor: Paul Solet
Elenco: Adrien Brody, Glenn Fleshler, Richie Merritt.
Link com trailer e informações: