Filme fortíssimo. Mas viver é fortíssimo, se você tem que tentar vencer pelos caminhos normais, sem ninguém que lhe abra “portas secretas”, com indicações.
Atalhos.
Índia de servidão, de castas sociais, abusos e exploração. Conhecemos isso no Brasil também. Nenhum desses nomes é assunto novo. Apenas no século XXI, as empregadas domésticas conheceram o direito a terem direitos – com muita gente falando que a empregada era “como se fosse da família” – família dos sem herança, claro.
Aqui, fala-se claramente de que o regime de castas coloca a nossa autoestima vivendo numa espécie de “galinheiro”, onde se morre para servir os de casta superior.
Costumes.
Tradições.
Cultura.
Parece que usam tudo contra nós.
Como romper grilhões de séculos? Em TIGRE BRANCO trata-se exatamente disso. E é duro ver o desenho do que se insinua na nossa frente todos os dias no ponto de ônibus, nos quartos de empregada minúsculos e sem janelas, pela corrida imobiliária em Portugal para imitar os quartos de empregada do Brasil.
Como conseguir “as entradas” para o mundo dos ricos? Corrupção simples. Dinheiro. Malas de dinheiro, aliás.
Também conhecemos essa direção. Mas o filme nos mostra item por item, num mapa nojento, abusador, em cenas incrivelmente realistas que, infelizmente, vemos todos os dias.
O final é surpreendente como um tiro. Uma facada. Como um caco de vidro entrando no corpo que você viu explorando uma pessoa, logo antes.
Imperdível para aqueles que passam a vida colocando “senões” nas ações positivas, sociais. Quero saber, isso sim, se eles terão coragem de manter esse discurso, depois.
Produção incrível, filme imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A Índia, declaradamente expõe as diferenças entre as pessoas de diferentes castas, a diferença de tratamento, de consideração, de respeito, de oportunidade, de justiça, etc. Na verdade, isto existe em todos os países do mundo, mas de uma forma mais velada. Neste filme, acompanhamos a vida de um homem de casta inferior, que tenta a todo o custo ultrapassar essas barreiras, aprender, esforçar-se, dedicar-se. Mas os sistemas sociais, quando são consistentes, são também terríveis para pessoas como ele. Não lhe dão espaço, oportunidades. Para piorar, ele fica sempre na situação de quem tem a culpa, quem fez o erro, quem arca com o peso das situações.
Humilhar as pessoas consecutivamente e apenas porque são consideradas inferiores, é muito perigoso. Elas tentarão sair da situação: basta um espaço, uma frecha.
As sociedades nem percebem o que fazem às pessoas. E depois não percebem porque se tornam sociedades doentes e explosivas.
Percebemos também, no filme, que as mulheres que percebem o mundo como um lugar que deve ser mais justo, tentam sair do país.
Um filme muito importante, que precisa ser visto. Que levanta imensos temas urgentes, não só na Índia. Um filme a assistir e a utilizar como estímulo para conversas sobre as pessoas e a existência de castas, sobre o papel e importância das mulheres no mundo, sobre as humilhações sobre os mais fragilizados, sobre a equidade, etc.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um ambicioso motorista indiano usa sua inteligência e astúcia para escapar da pobreza e alcançar o sucesso. Uma jornada épica baseada no best-seller do New York Times.
Direção: Ramin Bahrani
Elenco: Adarsh Gourav, Rajkummar Rao, Priyanka Chopra Jonas
Trailer e informações: