
Eu amo Almodóvar e Carlos Saura desde primeiro filme e apesar da beleza de O QUARTO AO LADO, a “explosão Almodóvar” vem se modificando a cada estreia. Isso ao ponto de vermos um filme absolutamente introspectivo, que nos coloca na discussão sobre o direito a eutanásia que o paciente terminal deveria ter para decidir quando quer interromper seu sofrimento, onde quer chegar com ele - e obter respeito e conforto.
A dinâmica das cores está lá – o filme é uma explosão delas. De roupas, casas, luzes, quadros, reflexos, livros, frases, pensamentos. Almodóvar preenche toda a história de vida de Ingrid e Martha – Julianne Moore e Tilda Swinton – com cores e arranca de nós suspiros, lembranças, melancolias - numa cornucópia mágica, sutil que nos leva a rodopiar em torno da vida e da necessidade de a termos com mínimas esperanças. Esperança vem da palavra esperar, vocês sabem – mas se nada pudermos esperar, se diante de nós, a única coisa a se esperar é o fim, o sofrimento, a dor lancinante, a perda de movimentos, onde ancorar a esperança, nascida do esperar?
Toda a construção emocional de O QUARTO AO LADO é erigida pela qualidade de interpretação e a brilhante escolha do que se poderia apresentar como cor – e Almodóvar nisso é mesmo insuperável. Para Tilda Swinton uma menção além – se faz uma viagem emocional através de seus silêncios, citações, naturalidades, neutralidades. Ao final do filme me perguntei como a religião cria tantos pormenores inúteis de sofrimento e também por que – em termos religiosos cristãos – temos que sofrer para podermos nos purificar, se o que viemos fazer no mundo, a cada novo nascimento, é evoluir, melhorar?
Não percam. Levantem questões. Talvez alguém consiga responder às minhas. Eu quero saber!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Almodóvar, o grande. É sempre uma enorme curiosidade que nos acompanha o coração, quando vamos assistir a um filme deste grande senhor. Pessoalmente sinto que nos últimos filmes está mais hermético, com relações humanas mais empobrecidas na expressividade, menos explosão, tudo mais controlado, menos improvisado. Mudamos, todos mudamos. Também a secura, seu olho mais amargo e angustiado perante a vida do planeta, perante a falta de empatia da humanidade, perante os enormes e infindáveis problemas que os próprios humanos criam para si próprios. E ainda assim, o grande Almodóvar. O que toca nos temas mais difíceis, mais polêmicos, sejam eles quais forem.
Desta vez, de novo muitos temas se aglutinam, mas talvez o principal seja a eutanásia. Depois que valor tem uma amizade, com quem podemos verdadeiramente contar, nossas relações com os nossos, a lei, a importância e o poder das forças de segurança e polícia.
Um filme que levanta muitos temas de conversa.
Duas grandes atrizes americanas, em cenários lindos, plenos de cor – assinatura Almodóvar – roupas super lindas e super fashion.
Um filmão.
Quando será que chegará o próximo Almodóvar?
Não perca, nem este nem o próximo.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Ingrid e Martha eram amigas próximas na juventude, quando trabalhavam juntas na mesma revista. Após anos sem contato, elas se reencontram em uma situação extrema, mas estranhamente doce.
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Julianne Moore, Tilda Swinton, John Turturro
Trailer e informações: