Que elenco! Muitas vezes, para concretizar uma história baseada em fatos reais, com o absurdo embutido nos detalhes da vida, é preciso um elenco estrondosamente fenomenal – é o caso de O MILAGRE. Ninguém mundialmente famoso, mas com uma construção de personagens primorosa. Mert Turak, impressionante, numa história da qual não quero revelar nada para não estragar a surpresa: tanto da ingenuidade, quanto da maledicência – porque são viagens sociais profundas e longas as que temos assistindo ao filme.
Há um peso não dado à importância da comunicação nas nossas vidas e, de uma maneira simples, eu poderia dizer que a civilização - conforme a temos - só nos é possível por sermos linguisticamente comunicantes. Ela constrói o nosso milagre interior, ao mesmo tempo em que abre as portas para milagres coletivos – coisa da qual estamos abrindo mão por trocarmos coletividade por consumismo. O Bug Latino é a completa aceitação disso e de que não podemos comprometer o frágil equilíbrio de que o desenvolvimento da linguagem oral e escrita nos dão.
O fato é que ser diferente não é pior, nem melhor, tanto quanto a nossa felicidade não tem modelo certo. Ainda assim, sofremos um massacre social mesmo quando somos muito amados; a forma, a prensa que tenta nos “colocar” naquele lugar, conduzindo bandeiras que sequer são nossas.
Aziz não pôde ser colocado em um lugar porque não cabia em nenhum; e a capacidade de conexão, a generosidade de um professor, o destino, o amor, o colocaram diante de seu salto no escuro de si mesmo. Que filme lindo...
Cada ator, cada atriz do elenco merece crédito. As cenas, a escolha do cenário, a opção pela simplicidade – cada escolha obedeceu a uma estética incrível.
Numa sociedade que assiste boquiaberta à revolta inesperada de pessoas que mal distinguem a vida real de mentiras, O MILAGRE aponta para o realismo maduro, romântico – aponta para a solução do amor.
Não esqueçam o lencinho, mas assistam, não percam. E depois falem de como o nosso empenho pelo outro precisa aumentar nesse mundo, nessa vida.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Primeiro, uma trilha sonora digna de prêmio, composta pelo cantor-compositor Aytekin Ataş.
Depois, um cenário de pasmar, com as montanhas e a beleza da natureza intocada da Turquia. Quem tem dinheiro e gosta de viajar, deveria incluir na sua agenda as zonas montanhosas e puras da Turquia, mas precisa deixar em sua casa a ideia do mundo de luxos e resorts...
Aí vem o filme, sua história verídica, seu roteiro, seus atores. Em particular, Mert Turak, nos mostra um desempenho fora do comum de um ator emocional, sensacional, profundo. Seu mergulho no personagem, principalmente ao nível do corpo, é impressionante. É mesmo impressionante. Deveria servir de exemplo em todas as escolas de teatro, de dramaturgia, em escolas de atores de uma forma geral.
Os momentos em que o personagem de Mert Turak, se entrega à sua liberdade, a sentir a vida, em que se comunica com a natureza, são impressionantes, belos e um alerta a todos nós, humanos civilizados e empedernidos, cheios de normas e comportamentos adequados na hora de saborear a vida.
Um professor, o ensino, aprender a capacidade de se comunicar, falando, escrevendo e como é importante, como é decisiva na vida de cada um de nós.
E os preconceitos, as aprendizagens de família, das comunidades, da sociedade em que nascemos e de como tudo isso nos faz sofrer. De como muitas vezes precisamos cortar o cordão umbilical dos nossos hábitos e/ou dos hábitos de todos que amamos, com quem convivemos, para podermos realmente ser livres, realmente respirar, realmente alcançar o que sonhamos, realmente ser quem devemos ser, que queremos ser. É um filme lento, diferente, em lugares onde a vida ainda é quase medieval, mas sabemos bem como tudo isso ainda se encontra em todo o lado, pintado de outras cores, mas igualmente limitador. Vamos aprender a encontrar as nossas melhores asas, vamos aprender a dar asas aos outros e vamos aprender a aprender, todos os segundos das nossas vida. E vamos seguir sempre o amor a nós e aos outros. Por aí o caminho fará sempre coisas boas de certeza.
Acho que deve ver o filme, acho que não o deve perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: No interior da Turquia, anos 1960, um novo professor é enviado para trabalhar em uma pequena vila.
Diretor: Mahsun Kirmizigül
Elenco: Talat Bulut, Mert Turak, Mahsun Kirmizigül
Trailer e informações: