O Bug Latino nasceu quando eu e Ana Santos começamos a discutir o fato de que as pessoas estavam cada vez mais, falando menos. É um fato. É um fato também de que é regra que os pais se encontram mais com os filhos pelo WhatsApp do que propriamente batendo na porta do quarto deles. Conversar com eles? Mas para onde evoluiu a conversa? “Você deveria ter feito isso; cadê isso que eu te pedi; você não arrumou, não fez, não resolveu”... Reclamar é a mesma coisa que conversar? Vejam os casamentos, os namoros, as famílias? Há um espaço onde todos se sentem confortáveis para falar? E principalmente: há um espaço para discordar na sua família?
Falamos que “depois das redes sociais” tudo mudou – mudou mesmo. E o filme junta os inventores de ferramentas das quais dependemos para desconstruir tudo, detonar, implodir. O filme é chocante – principalmente porque vi uma lógica na argumentação. E veja, obedecendo criteriosamente ao conselho dado pelo filme, não acreditei naquela verdade, mas vi uma lógica importante em tudo o que estava ali.
O nível de segurança de um pré-adolescente ser regulado pelos views? Mas já vi os níveis de segurança de adultos serem regulados por views! Quem ainda não viu? Até virou uma coisa comum de se ver. Mas agora, as crianças “seguem” o menino deprimido da Nova Zelândia, procurando situações comuns. Se copiam em movimentos globais. São enganadas por baleias azuis globais.
Não existe mais nenhum segmento que não conviva com redes sociais. Poste nas redes. Pessoalmente, posto quase nada porque toda a atenção é do Bug. Mas quem não tem o Bug é atropelado por foto de comida, restaurante, praça, tubarão, tsunami, pose, clic, pose, clic, sorria, clic – numa “felicidade modelo Instagram e Facebook”. Quem se importa em verificar se aquele card meio exagerado é verdade ou mentira? Ou quanto mais escatológico melhor? Que tipo de pessoa você é? Chama a garota de periguete e sai de arminha na mão se alguém fala da sua filha? O que as redes sociais estão propondo e o pior – o que permitimos que elas proponham sem freio nenhum? Sem discordância? Se o seu Face só tem “militantes de ideias iguais às suas”... acho que você está em perigo de se perder. De todos.
O filme tem um raciocínio muito claro. Há momentos de sincronicidade incrível entre botões de internet e imagens, há momentos onde me vi como um peão que é disputado a todo momento.
Vale demais ver. Nem que seja pra discordar e debater - porque isso é uma das capacidades que o algoritmo já nos está roubando.
Ana Ribeiro
Todos sabemos que somos manipulados pelo consumo, pelo comércio, pela economia. Permitimos de sorriso nos lábios. Adotamos comportamentos, expressões verbais, rotinas de vida que mostram socialmente que estamos atualizados. Que somos modernos. E, sempre consideramos que somos nós que decidimos sem perceber que somos manipulados. E isso é perigoso, entre muitas coisas, porque vamos deixando de ter as nossas opiniões pessoais. Muitos nem sabemos se temos opinião. Ficamos caminhando no vazio ou vamos com a corrente. É fato científico: o ser humano quando está indeciso, escolhe o lado da maioria. Por isso a importância de termos opinião, a nossa, baseada em informações seguras, confiáveis, científicas.
Se puder, veja este documentário. Li muitas críticas nas redes sociais que me desanimaram, mas ainda bem que decidi ver o documentário mesmo assim. Agora entendo que as críticas nas redes sociais na verdade tentam impedir que as pessoas assistam. Depois de assistir acho que vai entender. Julgo que todos precisamos de fazer alguma coisa, mudar muita coisa, antes que não sobre nada em nós e que fiquemos mais vazios, mais agressivos e mais inimigos.
Falam especialistas, falam alguns dos que criaram o “monstro” das redes sociais. Não tem muito o que duvidar. Mas tem muito, demasiado com que preocupar.
Ah, só mais uma coisinha. Eu vivi em Portugal 47 anos. Quando vim viver para o Brasil, trouxe meu notebook comigo e ele misteriosamente não encontrava nada do que eu pesquisava daqui do Brasil para os meus novos trabalhos. Eu não entendia bem isso. Pessoas literalmente do meu lado encontravam em segundos informações no Google que eu nem pensar em encontrar no meu computador. Depois de umas semanas de trabalho, finalmente algo mudou no meu computador e eu passei a conseguir as informações do Brasil bem rápidas e passei a ter dificuldades em encontrar informações de Portugal com o mesmo detalhe. Parecia que finalmente o Google aceitou que passei a residente, não turista e, portanto, as informações seriam outras. Foi muito estranho, mas hoje ao ver o documentário tudo fez muito sentido. Mas tem muito mais no doc, e muito pior. Tente não perder.
Ana Santos
Informações sobre o documentário:
Sinopse: Explora o perigoso impacto humano das redes sociais, com especialistas em tecnologia soando o alarme em suas próprias criações.
Diretor: Jeff Orlowski