Para os homens do tipo “se jogarmos água quente viram canja”, MUITO AMOR PRA DAR dá aula sobre as obviedades acerca da figura “quase mitológica” do “marido galinha” e suas mulheres iludidas.
Apesar do tema parecer meio “bobo” numa primeira olhada, MUITO AMOR PRA DAR levanta questões importantíssimas acerca desse universo masculino desfigurado pelo machismo e pela total incapacidade que muitos homens têm em perceberem uma traição como algo real e que cria consequências concretas em suas relações.
A – pode-se dizer – singeleza de Adrián Suar feriu meus sentimentos de morte. Logo na primeira fala ele diz que ama demais, mais que os outros – numa visão claudicante do significado de se estar casado com duas mulheres ao mesmo tempo – o que abre logo o espaço do que está por vir.
E vem, viu? Com todos os detalhes sordidamente engraçados e que talvez estejam lá na tentativa de disfarçar, inibir a dor de ver a desilusão nos olhos de Soledad Villamil e Gabriela Toscano – em grandes interpretações. Gabriela Toscano começa com aquele tom meio exagerada de comédia, que eu não gosto muito, mas entra no drama e daí no patético, no ridículo, na incredulidade de ver sua vida destruída, com maestria.
Soledad Villamil sai do papel de vítima para o de vingadora – não vingativa, foi de propósito - para no final estarmos diante de um quadro de mentira totalmente desfeito, como na vida real. Se os homens insistem em não ver é por incapacidade emocional mesmo, não há dúvida.
Honestamente, talvez o gênero masculino devesse ver em separado do gênero feminino porque mesmo entre risos o filme é difícil de digerir. Talvez sozinho cada homem hetero cis perceba que aquilo que machuca, que destrói, não pode ter nada de engraçado – como nas histórias contadas nos bares, entre uma cerveja e outra.
Para as mulheres é obrigatório – saber reconhecer um “galinha” é básico para podermos chutá-los para bem longe.
Ana Ribeiro, diretora de teatro, cinema e TV
Este filme, que aparentemente parece bastante bobinho, fala de um assunto muito importante e enraizado nas nossas sociedades – a cara de pau de muitos homens. Este cara tem uma família na cidade onde trabalha durante a semana, e tem outra família na cidade que trabalha de sexta-feira a domingo. E para ele está tudo certo, não tem qualquer problema – claro que não! O problema aparece quando as mulheres descobrem. E claro que eles sempre consideram um exagero e uma grande injustiça, as mulheres ficarem possessas, brabas, com vontade que ele “se exploda”. O curioso é que vamos percebendo e confirmando que quem eles amam, não são as mulheres, nem as filhas e filhos. Quem eles amam é o próprio umbigo – enorme como um oceano. Meu Deus, neste filme vi todos os homens que conheço que têm este mesmo nível de vaidade, de arrogância, de desrespeito pelas mulheres, de gelo perante todas as dores, sensibilidades e sofrimento dos outros – mulheres e filhas e filhos. Com o lema, vivendo e “se dando bem”, seja passando “por cima” de outras pessoas, seja mentindo com “todos os dentes”, eles ainda se sentem injustiçados e para piorar, ainda têm muitas mulheres que os defendem. Afff
Imperdível, com bate-papo feminino no final. Vale uma resenha daquelas depois de assistir.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Fernando é um traumatologista de prestígio, um homem de sorte, tudo parece perfeito. Mas ele tem uma vida dupla: de segunda a quinta vive com a esposa Paula e de sexta a domingo está com Vera.
Direção: Marcos Carnevale
Elenco: Adrián Suar, Soledad Villamil, Gabriela Toscano.
Trailer e informações: