O filme é de 2016, mas não tem a menor importância porque ele é bom demais. A história pode ser qualquer história de qualquer pessoa considerada diferente por motivos diversos – Maudie, tinha uma artrite grave e vamos começar desse ponto: para um ator pesquisar em si mesmo formas corporais, mecânicas de mimetizar uma limitação física e expressá-la em cena, sem exageros, como se fosse de verdade - ele precisa ser muito bom. Sally Hawkins nos dá a volta. Há momentos em que perdemos totalmente a dimensão de quem ela é e nos fixamos naquele corpo, naquelas mãos.
Vendo de outra forma, ser uma pessoa diferente – não importa como ou em quê – nos passa claramente a ideia de que há uma segurança subliminar em quem se acostumou a ver o mundo com realismo, aprendendo a conviver e sobretudo a sobreviver nele. Em Maudie, essa consciência faz dela uma habilidosa negociadora, transformando em palavras, em simbolismo verbal, sua convivência com quem virá a ser seu marido na trama – Ethan Hawke – que por sua vez mostra quem ou com que tipo de pessoa estamos nos acostumando a conviver ultimamente – sem muitas palavras, com frustrações explodindo pelo corpo, incapaz de assimilar brincadeiras, metáforas ou quaisquer figuras simbólicas do idioma.
Para quem começa o filme caindo de uma frustração em outra, Maudie nos encanta a todos, nos convence de sua forma de ver o mundo “naquela fração de tempo emoldurada pelas janelas da vida”.
Nesse sentido, o filme é uma aula onde a palavra perseverar, gentileza, comunicação humana e também egoísmo e velhacaria coabitam, sendo como transeuntes das mesmas estradas de perdas, de dores e também de descobertas e alegrias.
A chamada “violência física” pode ser a incapacidade de simbolizar emoções através de palavras? Muitas vezes. Maudie fez diagnósticos humanos impecáveis.
Além disso, a montagem, a construção da delicadeza de espírito e a firmeza de caráter nos banha de princípios, de retidão o filme inteiro.
Vale cada minuto, a partir da trilha sonora e passando por todo o resto: cenário, figurino, construção de personagem, direção, roteiro. Ao invés de ficarmos falando de como os diferentes sofrem, quem sabe podemos mostrar também como líderes silenciosos e atuantes são diferentes, quem sabe?
Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Extraordinária artista, extraordinário ser humano. Maudie adquiriu artrite reumatóide e essa condição, já tão difícil, trouxe-lhe dolorosos dissabores. Um deles, a forma inferior como a tia e o irmão a consideravam. Não bastam as dificuldades da vida, tem sempre a parte dos seres humanos que não sabem ser humanos.
Sempre em busca de um caminho, conseguiu um trabalho na casa de um homem muito rude, sem nenhuma instrução. O que parecia ser uma relação caótica – e parece ter sido inicialmente – foi sendo transformada numa vida inundada pela riqueza emocional de Maudie. Maudie encontrou um lugar onde sua natureza viva e iluminada podia “sair”, na forma como vivia e pelas suas pinturas. Seu marido, aos poucos foi amaciando e se tornando “mais civilizado”. Duas pessoas que salvaram, uma à outra. Não é afinal isso que todos buscamos?
Um dia tem alguém que vê a qualidade da arte que você faz, que quer comprar, que divulga. E, uma mulher abriu essa porta para Maudie. O ex-Presidente dos E.U.A. foi um dos que comprou uma das suas pinturas. Ficou famosa, gravou entrevistas para a televisão. Também percebeu a inveja e o ciúme da Tia e do irmão, pela vida que ela, Maudie, foi capaz de construir. Ela, que aos olhos deles, não prestava. Quem não presta? Existe alguém que não preste? Será que não presta quem acha que tem a capacidade de decidir quem presta ou não? Uma história de vida incrível, linda, que deve ser conhecida por todos. Todos. Maudie é um exemplo, uma referência, um estímulo para todos nós, para sermos boas pessoas, para sempre acreditarmos nas nossas capacidades e desejos – não interessa o que o outros digam – e manter-se igual. Ter sucesso ou não, nada é razão para modificar a vida que levamos, quem somos, como tratamos os outros.
Uma história de vida encantadora, uma pessoa encantadora. A atriz Sally Hawkins, foi soberba. Soberba.
Não perca, não perca. No máximo dos máximos, se não conseguir ver o filme, procure a história de Maudie no Youtube. Precisa conhecer.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Desafiando o destino, uma artista determinada e talentosa por natureza supera os limites físicos para ganhar o mundo com sua obra.
Direção: Aisling Walsh
Elenco: Sally Hawkins, Ethan Hawke, Zachary Bennett.
Trailer e informações: