Um filme para adolescentes cuja primeira habilidade é ser leve, sem ser bobo. Ter que lidar com o diagnóstico de uma doença crônica grave, sem ter os pais para criarem algum sustento emocional é muito difícil. Aí, os italianos mostram pedagogicamente as novas famílias, as amizades que evoluem para família, gays que não precisam ficar em busca de parceiros, nessa descrição social meio absurda de que, em sendo gay, você faz sexo em todos os momentos que lhe sobram, com tudo o que se mexe (?).
Sobra dor em pequenos lampejos nos olhos da atriz Ludovica Francesconi, sobra amor nos olhos de Giuseppe Maggio, sobra dedicação na interpretação de Josef Gjura e Gaja Masciale. Sendo um filme teen e descomprometido, DEMAIS PRA MIM aborda questões importantes como doença e morte com objetividade – e mesmo quando a dor da perda da coragem de dizer que está mal, que está morrendo se sobrepõe, o elenco consegue falar do assunto com leveza – talvez até um pouco de leveza demais porque os italianos dominam muito bem a linha de construção do drama e se não usaram, foi porque não quiseram usar mesmo.
Para o adulto talvez seja um pouco leve demais, mas acho que tem o peso certo para a geração para a qual foi feito. Expõe temas que precisam ser discutidos em casa, com amigos e família, num momento onde as crianças e jovens se machucam muito mais do que a minha geração se automutilou porque não sabem o caminho de colocarem suas dores em palavras porque os emojis não são e nem nunca foram suficientes. Claramente: Sinto mágoa, sinto medo, sinto ciúmes, sinto inveja. Sou humano e, portanto, sinto coisas que doem ou excitam ou envergonham. E é engraçado como os adolescentes de agora têm dificuldades até de dizerem um simples “não sei”, daqueles que se pode dizer até na escola, sem problemas. Nesse sentido, o filme é terapêutico porque fala da construção de um amor e de como não vale a pena fugir do que se sente, não como instinto – como o desejo – mas como emoção – como o amor.
Giuseppe Maggio é um grande ator, numa atuação linda, embora pouco exigente para o seu talento. Aliás, todo o elenco tem explosão para criar cenas emocionais e emocionantes – não nesse filme.
Quem tem filho nessa idade, deve ver junto, acompanhar e conversar depois. Porque eles parecem nem adoecer, mas adoecem – até morrem – e nós temos que falar que não são indestrutíveis, que pegam vírus, que precisam de vacinas, que podem morrer de verdade. E de verdade é perda, é dor, é impossibilidade de experimentar a vida. O filme mostra tudo isso com essa leveza estranha pra mim, mas comprometido em invadir o quarto deles e mostrar o que a vida as vezes faz.
Vale demais.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O que é demais para mim? Para você? Quem decide isso?
Um filme colorido, juvenil, um pouco novelesco. Pode ser visto como um bom filme para uma tarde de domingo junto de umas pipocas e uma manta nas pernocas. Mas, tem mais do que isso. O filme lembra que viver é agora. Que as doenças, a morte, fazem parte do percurso e que precisamos seguir sempre. Incluindo os jovens. Que a adolescência parece uma fase de brincadeira, como ir a uma festa ou fazer umas férias com os amigos, onde experimentamos loucuras e achamos que somos melhores depois disso e acabamos por desperdiçar um momento preciosíssimo da nossa vida por não o viver de forma séria e honesta. Que brincar e fantasiar também é bom para diluir o sofrimento e o tornar suportável. Que quando desejamos algo ou alguém que nos parece inatingível, apenas nos parece. O amor, a verdade, a autenticidade e a vida de verdade costumam permitir muitos milagres. Que as pessoas nos parecem muitas vezes felizes, seguras, importantes e na verdade, elas estão muito sós e sofrem em silêncio. Que o imprevisto e o impossível acontece muitas vezes quando o buscamos. E que, o que queremos e desejamos, mesmo que seja patético e “mico”/ridículo para os outros, não deixa de ser importante para nós.
Atores bonitos, talentosos, particularmente Giuseppe Maggio por ser muito expressivo, intenso, emocionante. Sua face nos transporta imediatamente para a sua emoção. Com pipocas ou sem pipocas é capaz de ser um bom filme para assistir.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações:
Sinopse: Marta pode ser órfã e ser afetada por uma doença letal, mas ela é a pessoa mais positiva. Ela quer que um menino se apaixone por ela. Não um garoto qualquer, o mais bonito de todos. Um dia, ela poderia ter encontrado ele.
Diretor: Alice Filippi
Elenco: Ludovica Francesconi, Giuseppe Maggio, Eleonora Gaggero.
Informações:
https://www.imdb.com/title/tt11154906/
Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=aS87ny2CR_g&t=9s
Filme completo na Netflix
Gostei do filme!
Incrível como os atores conseguem te prender na trama e mesmo não sendo uma adolescente me envolvi como se adolescente fosse.
Rsssss.
Marta é a pequena notável, com diante de sua doença crônica não desiste do AMOR.