A nossa capacidade – nossa no sentido de nós, adultos – envenenarmos as situações de maneira geral, em busca de um equilíbrio que justifique os nossos desequilíbrios é a base para que essa comédia francesa funcione muito bem, nos ridicularizando da forma como merecemos.
Construímos um mundo que fala de direitos, mas nós temos extrema dificuldade em lidar com diferenças – o Bug Latino tem um programa que as discute, inclusive – o que cria inúmeros atritos, dúvidas e medos que, na verdade, são apenas nossos preconceitos e dificuldades mal resolvidos. E qualquer preconceito nasce da nossa própria ignorância sobre aquele determinado assunto, o que também é claro porque, se tivéssemos a experiência, teríamos também o conceito e tendo o conceito, não haveria espaço para imaginarmos um “pré-conceito” para coisas que estranhamos. Fácil, não parece? Mas não é. Na França, há pessoas de inúmeras etnias o que teoricamente democratiza o convívio sociocultural – e assim seria, se – SE! – não nos afastássemos de diferenças, criando um defeito para justificar nosso afastamento.
Assim, o filme aponta com humor rascante inúmeras situações que poderíamos trazer para o Brasil, já que quem acha que não tem preconceito, nem vive num país racista, corre ao ver negros e mestiços – nós, pois isso é quem somos – correndo também, não importa o motivo. Assim, um grupo de negros correndo em direção a um ônibus é: A- assalto; B- gente com pressa de chegar em casa; C- arrastão – e há quem responda assalto ou arrastão sem pensar!
Interpretações maravilhosas e tanta diversidade que a gente, num Brasil que se acha uma democracia racial, se pergunta de onde vem aquela uma ou outra pessoa. Uma confusão familiar adorável, brigas, erros, acertos e, afinal, as crianças acabam resolvendo as questões mais complexas, como sempre porque priorizam o que sentem.
Um filme bem-humorado que deveria estar nas escolas para iniciar um debate sobre preconceito e ignorância, tanto quanto como o conhecimento pode ser uma arma poderosa contra as pessoas mais “tapadas” socialmente, tornando as nossas diferenças apenas no que são – diferenças – porque o principal, a nossa humanidade, independe de raça – depende mesmo é do caráter de cada um nós.
Muitos ditadores já tentaram – Hitler o mais visível historicamente – criar uma marca para a diferença – no caso dele, a braçadeira com a estrela de Davi, de tal forma apontar que os judeus eram inferiores por não serem brancos, arianos. Se naquela época já tivéssemos testes de DNA, quanto tempo ele levaria para ser ridicularizado? Nas democracias isso também está cada vez mais visível com patetas como Trump e seu inexplicável muro anti-mexicanos. E atualmente isso se estende a qualquer pessoa – de ditadores a pastores – numa configuração mundial cheia de gente tapadinha que quer impor valores tapadinhos como se fossem grandes coisas – oops – não são. São só “ridiculices” e devem ser tratadas assim.
Não esqueçam de prestar atenção nos ridículos que tentam demonstrar que são a vanguarda do pensamento, mas que são apenas pessoas politicamente corretas que não são capazes de darem um único passo em busca do desconforto da aceitação e da descoberta. O mundo está superpopuloso desse tipo. Cuidado, “teens”!
Para professores: exponham a cara de bocó de Hitler e como o mundo pagou caro por fechar os olhos ao ridículo por medo de desemprego, medo de perder seus valores morais, medo de ser atingido, influenciado - como se nós não precisássemos ser influenciados para podermos melhorar como pessoas, julgar melhor nosso lugar e nossos limites.
Levem seus filhos e vale um sorvete com conversa pra todo mundo ter certeza que viu o melhor do filme.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Filme obrigatório para professores, para pais, para quem de algum forma está relacionado com o sistema escolar e se preocupa com esse tema sensível da sociedade. Obrigatório igualmente para os que se preocupam com os problemas que surgiram com a diversidade – social, económica, de pertença, etc – num momento em que o número de pessoas que estão fora do seu país, ou nem país têm, é avassaladora...
Sempre muito bom ver filmes de outros países, outras formas de olhar a vida, onde sempre percebemos que as diferenças não são sobre países mas sim sobre as pessoas. As que são do bem e as que nem por isso. Nunca sobre de onde você é, mas QUEM você é.
Um casal que vive um pouco fora do sistema social esperado. Que bom! Pessoas encantadoras, criativas e humanas. Dá vontade de tocar na campainha para participar das conversas, dos convívios. Lembram pessoas verdadeiras e incríveis que aqui e ali todos temos a honra de conhecer e conviver. A trilha sonora/banda sonora do filme é sensacional. Um das músicas mais bonitas se ouve num dos momentos mais belos de convívio das famílias felizes. Instante puro e lindo. Amei. Isso é cinema!!! Os planos, a velocidade das imagens. Fantástico.
As escolhas do casal nem sempre lhes permitem ter uma vida tão serena e tranquila quanto desejam. Mas seguem seus corações e a tentativa de serem justos, tolerantes e compreensivos. Porque não somos todos assim? Onde se perdeu isso em nós? Puxa...os conflitos do mundo burguês ou, das pessoas que fazem de conta que são burguesas, atrapalhando a felicidade de TODOS...chato isso não?
O filho mais novo e as mudanças sociais e culturais no bairro da escola que frequenta; os colegas de escola e suas famílias; o bizarro mas carinhoso diretor da escola; a professora “out” e cheia de palavras vazias que representa tantos professores no caminho errado; provocam alguns confrontos e reflexões no seu modo de pensar e agir.
O filme nos alerta para a cruel realidade atual, no encantador jeito brincalhão do povo francês. A necessidade de preparar as crianças para ataques terroristas – o que fazer, o que nunca fazer, o que dizer, o que nunca dizer, para onde ir por mais bizarro que possa parecer para uma criança; para a diversidade cultural, religiosa e humana dos lugares no mundo (que ainda são) mais “pacíficos” para se viver; para as escolas públicas e privadas e para a forma como se vende o melhor lugar para “educar”/”formatar” os filhos.
O inesperado da violência é marcante na vida dos brasileiros. Mas a Europa, sem desejar, se tornou um lugar onde a violência inusitada criou medos, marcas, fraturas. E a França, sofrida, mostra as suas feridas e também como enfrenta o que pode acontecer a todo o momento. Servem e são uma referência sobre como fazer quando o inesperado (extremamente destruidor) acontece. Obrigada França. Vocês não sabiam, mas nós olhamos vocês e aprendemos muito.
O sistema escolar sempre procura padronizar, regular, formatar – pelo menos os alunos. E, sempre aumenta o trabalho, a carga horária, as responsabilidades, as culpas – dos professores. Professor deve não pensar, não sentir, não ser. Tudo é para os alunos. Mas sabemos que nada funciona de forma saudável quando só um lado usufrui. E, o que acontece é que neste momento, o sistema escolar é insatisfatório para todos os que estão envolvidos – professores e alunos. Em sociologia falam de díade social – relação entre dois “lados”, em que um alimenta o outro. Se um não alimenta o outro...perdem os dois. O professor perder, quem quer saber? Se perde é incompetente! Falamos de pessoas que dedicam profundamente a vida aos filhos dos outros... Mas o aluno...paga tanto...como pode isso acontecer?
Educação e saúde virarem no século XXI preocupações de lucro nos países é inacreditável. Uma profissão que por base é criatividade, sustentada em ciência e disciplina, virou algo que é mais semelhante a cuidar de grupos numerosos tentando que não se magoem e que sejam minimamente educados na forma como falam e se comportam.
Ser diferente tem custos. Ser diferente é difícil e duro. Não obedecer a regras instituídas socialmente, mesmo regras criadas arbitrariamente, confrontam os “free spirit”/ espíritos livres constantemente. Alguns não resistem e adoecem, outros seguem o sistema e aceitam a formatação em troca de sobrevivência. Os que conseguem permanecer e resistir, são heróis. Mas serão sempre olhados, reprovados, criticados. Precisam de saber quais as regras fundamentais a obedecer para não serem disseminados. Mas devem ser sempre pessoas atentas e vigilantes. Porque o sistema não os quer assim.
Atores sensacionais, incluindo os meninos e meninas jovens. Fabulosos. Amei, amei. Mais um filme a ser visto e a ser razão de uma conversa e reflexão com pais, alunos, professores do ensino público e privado.
O preconceito, algo permanentemente a resolver, principalmente em países e zonas geográficas que têm presentes e principalmente passados violentos e fraturantes.
E novamente vemos, neste caso num filme, que, quando somos todos íntegros, na hora da verdade, da necessidade, da colaboração, estamos todos presentes e nos vendo e aceitando verdadeiramente. E que, o que vivemos e sofremos na época de criança e adolescente é determinante na nossa vida adulta. Sabemos e esquecemos. Por favor, sendo pai, mãe, tia, vizinho, etc, vamos ter isto como algo a cuidar? Por favor? Faremos mais pelo mundo do que muitos presidentes de “fachada”.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt8171974/
Site do Circuito Saladearte