A comédia francesa se apoia no ridículo, no nonsense da vida – e eles fazem isso muito bem. No caso de LOLO, a partida é o fato de que a nossa geração está socialmente mais só, enquanto que as novas não têm interesse em sair da “casa da mamãe”; se o filho é um sociopata... fica hilário.
Isso não quer dizer que o filme não seja incômodo, que a gente não reconheça vários amigos, de várias famílias e que socialmente a comédia deixe perguntas que precisam ser respondidas. Esse negócio de “proteger os filhos da vida” é a coisa mais sem noção do mundo, já que não existe nenhuma chance de se proteger ninguém das voltas e reviravoltas que a vida dá. Assim, pequenas reclamações de LOLO, a forma como ele conduz o discurso para trair a confiança de sua mãe e a de seu namorado, o uso que faz de pequenas e continuadas subversões, gera o clímax do filme, onde uma grande ação põe à descoberto o que se sabe à respeito da vida de LOLO e de tudo o que fez para se dar bem.
Assim, não se deixe levar pela leveza da comédia; LOLO aborda temas atuais, importantes e que fazem parte da nossa sociedade hoje – do filhinho da mamãe que foi dar entrevista na TV para dizer sorrindo que o dinheiro das creches não foi usado, sobrou – sem pensar nas crianças, claro – aos discursos do presidente e seus filhos, diante da extrema pobreza em que vivemos, gastando (muito) e sem preocupações. Sem olhar para o lado. Sem nenhuma empatia.
De risada em risada você percebe esse afastamento emocional e essa aproximação do egoísmo extremo e vai se assustando porque o mundo está assim; e estando assim, como sobreviveremos ao mundo?
Vincent Lacoste tem um trabalho excelente de micro expressividade; é absolutamente natural, sendo absolutamente cruel e frio. Dany Boom e Julie Delpy de vez em quando “pesam um pouco” no ridículo – o que não prejudica o filme, mas faz com que a vilania seja mesmo sua grande protagonista.
Vale cada minutinho.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Os filmes franceses são encantadores!
Julie Delpy, multifacetada artista, constrói um filme aparentemente simples, fútil e muito engraçado. A questão é que o filme é tudo menos isso. Uma trama engraçada, até por vezes patética e comum a muitos filmes, mas que nos leva a um lugar muito pouco abordado publicamente e muito comum – os filhos únicos, os filhos mimados e os filhos com complexo de Édipo.
Mulheres divorciadas, separadas, viúvas, com filho/filhos. Com todas as suas problemáticas de meia idade, de fragilidade, de insegurança, mas também de determinação, coragem, liberdade, demoram a perceber que as dificuldades que muitas vezes surgem nos relacionamentos amorosos, podem ter a “mão familiar”. Complexo, triste, difícil, mas um assunto que precisa ser falado e enfrentado.
Bons atores, Vincente Lacoste de novo nos mostrando como é espetacular esta nova geração de atores franceses. A começar por ele.
Paris, mostrado com discrição e bom gosto, ao mesmo tempo que tem mensagens subliminares que nos mostram como o mundo está complicado em todo o lado – por exemplo, o cara que vai viver de frente para a Torre Eiffel e afinal apenas vê a sua cúpula, por detrás de altíssimos prédios.
Uma delícia de filme, suave, engraçado e que no final, como numa piada inteligente, nos dá a estocada no peito.
Muito divertido e muito importante. Tente não perder. Dará sonoras gargalhadas e também será alertada/o para coisas muito importantes.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Violette, uma trabalhadora de 40 anos com uma carreira na indústria da moda, se apaixona por Jean-Rene, um fanático por computadores da província, enquanto está num retiro de spa com sua melhor amiga.
Diretor: Julie Delpy
Elenco: Julie Delpy, Dany Boon, Vincent Lacoste
Trailer e informações:
Muito bom o filme. Ótima dica.👏🏼👏🏼👏🏼