Um DOC curto, de 40 minutos, mas que diz muito acerca do peso que a pressão social exerce sobre nós. De: mulher não serve para nenhum esporte, lugar de mulher é em casa, chegar à primeira colocação na Índia e no mundo, no arco e flecha, não é pouco. Deepika Kumari não medalhou no Rio, nem tão pouco em Paris, mas dentro de todas nós, mulheres, ela já é medalhista, com certeza.
A trilha do filme é muito especial. Pouca gente pensa na trilha, mas sem ela, sem “o caminho” emocional, estaríamos numa rodovia sem placas, essa que é a verdade. E a trilha é gloriosa. Deepika é muito marcante, tem uma personalidade fascinante, é linda e aponta exemplos tão próximos aos do Brasil que chega a dar uma gastura. Tudo isso te enreda e eleva o filme a um patamar super emocional. Muito mais do que falar sobre a qualidade do roteiro, as tomadas, etc, o filme precisa ser visto por re-indicar o caminho do exemplo – não essa coisa quase boba que afirma “ganhe 7 dígitos” ou que começa invariavelmente com: “Fala galera do YouTube”! - Uma coisa muito maior do que muitas frustrações dessa geração porque praticar esportes, no caso de Deepika, significava comer ou não comer ou ter uma vida autônoma ou ser obrigada a noivar e casar.
Em 40 minutos, a gente dimensiona a pobreza e o esporte como a divisa entre viver ou não viver com dignidade para uma mulher – e isso vai além de qualquer trauma porque significa sobreviver ou sucumbir.
Num momento onde o Bug Latino e mais inúmeras instituições apontam para a questão da diminuição drástica de vocabulário, LADIES FIRST – NA MIRA DO FUTURO aponta que, para que se fale, é preciso que a sociedade perceba que é preciso construir este lugar de fala todos os dias. E que saber falar é poder porque é autonomia.
Pegue então seus filhos e filhas adolescentes e vejam juntos ao DOC, fazendo valer aquele bom discurso de formação, do estímulo a tentar e insistir na tentativa tantas vezes quantas forem necessárias porque a lavagem cerebral – “você não pode, isso não serve pra você” – é absolutamente destrutiva e intolerável, acreditem.
Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de teatro, cinema e TV
Esta menina é um achado no meio de um país terrivelmente machista e extremamente desorganizado esportivamente. Vinda do lugar mais pobre e terrível da Índia, se torna na maior atleta indiana de Tiro com Arco e uma das melhores do mundo. Impressionante a sua determinação e visão, desde menina, quebrando barreiras, buscando caminhos, lutando contra um “feminino destino indiano” padronizado e poderoso.
Na primeira olimpíada quase conseguia alcançar seu sonho e apanhou todos de surpresa. Mas – engraçado e terrível isso – depois de surpreender, o machismo dos mídia indianos, nunca mais a deixou em paz. E a partir da primeira olimpíada, passou a ser cobrada sempre que tinha uma lesão ou não alcançava a meta desejada por todos e sonhada por ela. Incrível isso, não é? Duvidam das mulheres e depois não admitem menos do que o primeiro lugar. Isso é Índia, mas não é só Índia – sabemos todos bem. Algum dia precisamos aprender a dar valor ao que algumas pessoas como esta menina, mulher, Deepika Kumari, foram e são capazes de fazer. E apoiar, admirar. Em vez de ser mais um fardo. Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Em seu vilarejo pobre na Índia, mulheres não costumam ir longe. Mas as flechas dela foram. Conheça a arqueira Deepika Kumari, que se tornou a melhor do mundo aos 18 anos.
Direção: Uraaz Bahl
Elenco: Deepika Kumari
Trailer e informações: