Ainda na trilha de filmes bacanas em tempos de Covid-19, o Bug fez uma maratona de gênios da música brasileira. Os 3 nascidos em tempos diferentes, mas com pelo menos um traço comum – a obsessão pela música. Cada um à sua maneira, mas tendo a música como uma espécie de “fator-ímã”, eles tiveram que enfrentar dificuldades e “nãos” de diferentes formas, em diferentes lugares da carreira – e os derrotaram. Cada vida, aponta para um nível de dedicação quase incansável – obsessiva até – apontando para o fato de que hoje e sempre, mesmo num momento do mundo onde todos tentam ter de cabelo a roupa semelhantes, o diferente sofre mais – mas quando consegue se sobrepor, quando consegue uma porta aberta, é inalcançável.
Boas produções, com narrativas que tentam ser honestas com o momento vivido, a sociedade da época, mas que acabam por ser equiparáveis com a mesmice que enfrentamos no dia a dia, cada um dos filmes conta a história da persistência. Nesse sentido, todas as escolas deveriam exibi-los como exemplo de que ninguém nasce com reconhecimento - é uma jornada longa para todos. E quanto melhor você é, parece ser mais difícil encontrar alguém que lhe queira dar uma chance. Num momento onde o limiar de frustração anda assim tão baixo, é importantíssimo demonstrar que insistir é uma das premissas para o sucesso e que não pode ser um Covid o que pode nos impedir de enfrentar governos, erros políticos, procurar uma chance. Nada deve nos impedir de perseguir nossos sonhos.
Muitas informações me surpreenderam nos 3 filmes, muitas curiosidades, muitas tristezas e dores também. E muito orgulho. O Brasil, com todas as suas incertezas e estranhezas é uma fábrica de sucesso, na música. São gerações que vão se sucedendo, sem parar em documentários já vistos e que falam da vida não menos importante de Tom, de Caymmi, Elis, Simonal – inúmeros.
TV fechada, filmes que não são novos, mas que contam – e nós precisamos saber – um pouco mais da nossa história – governos, tempos, sociedades, preconceitos – evoluímos?
Imperdíveis. Façam uma maratona como fizemos – ninguém vai se arrepender.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
3 virtuosos, 3 fenómenos do Brasil. Um país cheio de magia, de exemplos de talento e trabalho que parece esquecido. Os 3 com sucesso no Brasil, nos EUA, no mundo.
Carmen Miranda, nascida numa aldeia de Marco de Canaveses em Portugal, herdou a capacidade de trabalho, de sacrifício e de resistência, característica das pessoas desta zona de Portugal. Vivendo no Rio de Janeiro, herdou a magia, o ritmo e a virtuosidade dos cariocas e de todos os brasileiros. Um fenómeno extraordinário. Ritmos diferentes para a época, ainda hoje são conhecidos e cantarolados por muitas pessoas. Pequenina, um olhar e sorriso luminosos, uma energia cativante e infinita. Um casamento infeliz abalou seu caminho de vida e quem sabe foi responsável pela diminuição da sua energia no trabalho e prematura morte. Naquela época, pedir o divórcio era desistir, era não ser capaz de cumprir as regras sociais. Mas, não o fazer, teve resultados pessoais destruidores. Mudar é difícil e dá muito medo. Mas ficar onde não se é respeitada nem protegida não é boa solução. Uma diva.
Heitor Villa-Lobos. Virtuosismo impressionante. Composições difíceis de executar, para sempre todas inesquecíveis. As “Bachianas Brasileiras” é talvez uma das obras musicais mais bonitas e intensas do mundo. O fato de ter viajado pelo Brasil, ter conhecido as várias culturas musicais dentro de um país continental, os sons dos animais da floresta, a cultura musical e forma de vida dos indígenas, contribuiu muito para a riqueza particular dos seus sons. Um espirito livre, impossível de “domar”. Um gênio.
João Carlos Martins. O que começa com o desejo do pai, se torna uma obsessão e uma genialidade. Uma vida com tropeços de saúde, incidentes e acidentes que impediram que seu sucesso e percurso fossem ainda mais sensacionais. Necessitou de se adaptar constantemente às suas dificuldades físicas, procurando sempre inovadoras possibilidades da medicina. Até hoje. E sempre encontrou uma forma. Sempre. Uma capacidade fora do comum de tocar piano. Rapidez, dedicação, talento. Um viciado assumido pela música, pelo piano. Outro espirito livre na vida. Um virtuoso.
Vale muito a pena conhecer as biografias dos 3, através destes filmes e documentários. Percursos árduos, com momentos duros, mas em que todos tinham em comum uma capacidade e dedicação ao trabalho, enorme capacidade de sacrifício e um talento e amor incondicional pelo que faziam. Os 3 foram e são estrelas raras de sucesso que podem e devem servir de exemplo. De exemplo para se encontrar saída num Brasil atravessado de problemas, de coisas erradas, de disputas, de “fake news”, de descrença, de medo, de pobreza, de injustiça. De um país que precisa de parar com a discórdia destruidora. Que precisa recordar os verdadeiros valores humanos porque pessoas demais sofrem as consequências. Não está certo.
Ana Santos, professora, jornalista
Link do filme “João, o Maestro” (2017)
https://www.youtube.com/watch?v=dIbaD0-h9Ag
Link do filme "Villa-Lobos Uma Vida de Paixão" (2000)
https://www.youtube.com/watch?v=Gsv6BKxey7g
Link de documentários sobre Carmen Miranda
https://www.youtube.com/watch?v=GVSnYKResbk&t=29s
https://www.youtube.com/watch?v=0IMCfQpeMIQ
Link de informações sobre o filme “Carmen Miranda: Bananas Is My Business” (1995)
Ainda não assisti essa programação maravilhosa. Não tenho dúvidas de que vou amar. Parabéns Professoras Ana´s!!