Todo mundo sabe do potencial crítico das comédias, certo? Bem, JÁ ERA HORA, de 2022, não fica atrás: a crítica ácida sobre a forma como estamos gastando nosso tempo, atualmente, reposiciona o que é realmente importante.
Claro que tem a tal dose de exagero que pertence à construção das comédias: o cara não guardava o nome da própria filha, não sabia nada dela, da casa, de problemas – o que, se no começo do filme era engraçado, num dado momento começa a marcar os desertos dos atuais relacionamentos, a marca da solidão compartilhada e a permanência dos sentimentos que são os nossos, embora não os estejamos usando como antes. O que é importante na vida? Trabalhar, crescer, ganhar dinheiro ou conversar com sua filha, se interessar por sua vida?
E se você respondeu imediatamente que sabe tudo sobre seus filhos, pare. Só o fato de ter respondido tão rápido que sabe tudo, pode ser a pista de que você não sabe, mas está vivendo num pressuposto antigo, onde bastava olhar para o berço que você sabia onde o seu bebê estava. Hoje, os pais entregam ao YouTube a função de baby sitter, que antes era da Xuxa e da Eliana, não vivem o sim e o não de cada dia e depois colocam a culpa na vida, na escola, nos amigos, na internet.
Portanto, JÁ ERA HORA tem todos os ingredientes pra família se sentar junta pra assistir: é divertido, na mesma medida em que é profundo, se houver alguém para lançar o tema e falar do assunto.
Tomara que você faça isso.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Parece um filme bobinho e leve mas ele nos alerta para a forma como “quase” todos vivemos apressadamente. Preocupados com o futuro e dependentes do passado, não sentimos nem apreciamos o presente como “um presente”. A vontade de conseguir o que não temos, o hábito de cumprir normas e formas da sociedade – agora é o momento de casar, agora é o momento de ter filhos, agora é o momento de comprar um carro, de comprar casa, de trocar de casa, de comprar mais uma, etc. Fazendo muitas vezes um esforço gigantesco para cumprir o que se deve fazer. E depois, em determinados momentos – aniversário, Natal, a morte de alguém querido, uma doença – é que se dá conta que vamos embalados numa correria desenfreada, sem nem apreciar o que somos, o que temos, quem temos do lado e o que realmente é importante para nós. E sem interessar o que os outros dizem ou pensam – algo difícil quando vestimos a pele de filha ou filho que quer ser aceite e portanto aceita todas as propostas dos pais, ou quando nem sabemos bem o que queremos e resolvemos deixar a vida nos levar ou os outros decidirem por nós. Até um dia. Desejo que esse dia chegue cedo para todos, para terem tempo de apreciar o que deve ser apreciado.
Excelentes atores, trilha sonora linda, uma casa muito fofa e simples com uma cozinha com armários azul do céu e geladeira cor de cereja – parecendo uma cozinha de bonecas. Um cara que parece estar sempre “out”. Que nunca sabe de nada. Que parece que vive numa vida paralela. Quantas pessoas conhecemos assim? Veja o filme com elas. Pode ser que salve algum amigo. Porque é uma ideia muito interessante para um roteiro e que nos atinge em cheio. Tente não perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Nesta comédia dramática, um homem que trabalha demais e vive apressado começa a pular de ano em ano sem perceber. Agora, ele só quer que o tempo passe mais devagar.
Direção: Alessandro Aronadio
Elenco: Edoardo Leo, Barbara Ronchi, Mario Sgueglia
Trailer e informações: