Um maníaco se acha ungido e escolhido por Deus para perseguir e assassinar prostitutas – esse é o resumo do filme em uma frase – um suspense incrível e ainda por cima baseado em fatos reais.
O Irã, o machismo, a violência masculina, a prostituição que existe porque existe o machismo e as necessidades desse machista, Deus, o Alcorão, o corporativismo masculino e aquilo que é o feminino e que está na prostituta, assim como na jornalista – é uma soma que parece dar mau resultado - mas dá um filme sensacional, onde mil vezes nós sentimos o estômago embrulhar de nojo diante de como o homem cis pode descer tão intensa e rapidamente ao esgoto humano.
Homens cis no coletivo? Sim, infelizmente. HOLY SPIDER desnuda um tipo de protecionismo masculino, onde as piores falhas têm justificativas sempre – o que não é prerrogativa do Irã. Na verdade, vemos essa “mão protetora” sobre o homem em julgamentos de estupros, assédios, feminicídios, violência sobre mulheres trans, proibição de que possam ir ao banheiro, colocando Deus como “emissário da mensagem” – o que está tão distante da função “amai-vos uns aos outros” que só “cola” porque o machismo quer que cole.
O filme é eletrizante e o elenco primoroso – destaque para Zar Amir Ebrahimi e Mehdi Bajestani, no papel do monstruoso Saeed.
Aquilo que vemos hoje sobre religiões radicais precisa de freio, contenção. Os homens fazem uso do gênero feminino desde que conhecemos a civilização: por bem ou por mal, com sedução ou estupro. O pensamento religioso doentio, transforma estes mesmos homens em “assassinos do Senhor”, assim como aqui mesmo, no Brasil, já temos os “traficantes de Jesus” – uma perversão da ideia de quem é, de como é descrito Jesus socialmente.
Nesse sentido, HOLY SPIDER é um filme obrigatório que soube investir em roteiro, direção e elenco para nos apresentar uma obra explosiva, que nos deixa em transe o tempo inteiro e onde a solução nasce da cobrança social que principalmente o gênero feminino tem que ter, tem que apresentar para elucidar a mente tantas vezes toldada do gênero masculino.
Um filme e tanto, imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme iraniano muito surpreendente. Corajoso. Tenso. Imperdível. Numa sociedade extremamente preconceituosa, as prostitutas – que existem porque os homens as procuram – são consideradas o veneno da sociedade e um homem, que socialmente é respeitado, decide exterminá-las. Sem um pingo de clemência, um pingo de dignidade, respeito, ou sentimento. Vemos uma sociedade corrompida pelas formas indiretas de “salvar os amigos e os familiares”, sejam eles culpados ou não. Vemos uma sociedade silenciosa que fala muito nas costas, que efabula, que utiliza os boatos para determinar quem querem que seja respeitado ou não, independentemente do que fez ou não. No meio deste ambiente terrível, que ainda junta um machismo atroz e a subserviência das esposas e famílias, uma jornalista se dispõe a procurar a verdade. E faz o papel que deveria ser o da polícia. Tenso, tenso, até ao final. Você cola na cadeira, arregala os olhos e fica numa tensão tremenda, desejando com todas as usas forças que a justiça seja feita. Sabendo que é tão frequente e tão mais fácil atribuir as culpas às mulheres – sejam prostitutas, sejam jornalistas, etc.
É impressionante como foi realizado este filme no Irão/Irã, com esta temática, expondo imensos “podres” das sociedades - mundiais. Que coragem. Informam no final que é baseado em fatos verídicos. Não duvido. Horrível. E horrível também a forma como estas atitudes e ações deixam “sementes perigosamente venenosas” nos adolescentes, nos familiares.
Os atores são todos espetaculares. Adorei todos, mas Mehdi Bajestani tem um desempenho soberbo. Como mergulha no perfil psicológico e físico do personagem. Chega a ser assustador.
Imperdível. Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Uma jornalista investiga o submundo da cidade sagrada iraniana Mashad, em busca de um serial killer de prostitutas. Conhecido como Spider Killer, o assassino acredita estar numa missão espiritual de limpar as ruas do pecado.
Direção: Ali Abbasi
Elenco: Alice Rahimi, Diana Al Hussen, Soraya Helli, Mehdi Bajestani.
Trailer e informações: