Às vésperas de uma eleição como a nossa, um filme onde se fala apenas e tão somente sobre a importância vital da liberdade. Mil momentos onde a ficção e a nossa realidade viram uma projeção de uma sobre a outra.
Na cena 1 de HARRIET, a perfeição da escolha da ambientação e a trilha falam tudo – numa lenta e panorâmica “varrida de câmera” onde nós vemos a fazenda do sul dos Estados Unidos, mas sabemos, sentimos, as raízes do “engenho” brasileiro.
Cynthia Erivo é uma atriz como poucas. Com uma voz de extrema qualidade, tem a oportunidade de usá-la no curso da trama e o faz com absoluta competência cantando e interpretando a personagem principal do filme.
Todo o desenrolar da história nos lembra a nossa. O fato de a heroína ser mulher, me remeteu de imediato a Joana Angélica, Maria Quitéria e principalmente a Maria Felipa – heroína que insistentemente a história põe de lado, quando todas as mulheres baianas sabem da sua importância nas batalhas da nossa independência.
HARRIET enfrentou, salvou, encorajou, voltou, lutou. Hoje, certamente há “capitães do mato” que a chamariam “comunista” – já que agora, qualquer preocupação com o bem estar das pessoas te faz comunista – como Jesus, talvez o mais novo “comunista” da história das novas “religiões lideradas por políticos”, ao invés de Deus.
120 minutos de ansiedade, de torcida, de penitência. Na vida real existem heroínas também e HARRIET está na ficção, mas nasceu, tem uma biografia forte e viva que a ficção tenta mostrar, mas que nada conseguiria redesenhar sem a força da personalidade de Harriet Tubman, muito bem abstraída e realizada por Cynthia Erivo. No filme há ela e o elenco. Todos muito competentes, mas seu mergulho foi total e incrível.
Ver o filme nos faz orgulhosas de pertencermos ao gênero feminino e termos forças cada mais maiores para enfrentarmos o machismo e seus extraordinários “estafermos” – os machistas. As mulheres não apenas podem, mas devem votar no dia 30 de outubro, honrando as que vieram antes, as que lutaram para termos este espaço. Honrando nossa mestiçagem, já que o termo pardo é ridículo e tem que acabar.
HARRIET tem tudo isso numa produção caprichada, com poucas cenas mal resolvidas, emocionantes e muito mais ainda por ela ter existido, por ter feito história, por fazermos parte dela, por estarmos vivendo outro nó contra a nossa liberdade e por estarmos plenas para revivermos HARRIET de novo e sempre – escrevendo o momento onde são as mulheres e o Nordeste que salvam o Brasil da loucura.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Impressionante vida, impressionante coragem, impressionante mulher. Não conhecia a sua história de vida. Quem não conhece, tente não perder o filme. Ensinaram-lhe que o medo era seu inimigo, buscou a justiça, lutou pelo que achou certo, seguia seu instinto, seguia Deus. Uma grande mulher, no meio de grandes mulheres e homens que fizeram o bem e salvaram muitas vidas.
Vivemos tempos onde, de forma diferente, poucos fazem o bem, o que é certo. Quem sabe Harriet serve de exemplo, de estimulo, porque tem muita gente por aí, “armada em santa”, mas de “santa não tem nada”. Pergunta recorrente: vamos assistir aos que se dizem religiosos, aos que dizem defender pátria, família, mas na prática legalizam armas, dividem o povo, destroem tudo em volta dos povos originários da floresta, desrespeitam as mulheres e as populações lgbtqia+? Ou, cada um, tenta fazer a sua parte por um mundo melhor, por uma sociedade mais justa e equilibrada? Porque de nada adianta ver estes filmes, conhecer estas vidas incríveis e depois baixar a cabeça e obedecer, obedecer, obedecer, para se dar bem na vida. Todos erramos, mas todos precisamos aprender a pedir desculpas e a mudar de caminho. Manter os erros está nos afundando. Estamos amargos, cegos, divididos.
Um elenco de luxo, com Cynthia Erivo fazendo um papel fenomenal. Uma trilha sonora brutal, linda, emocionante. Um filme obrigatório. Como diz Harriet, nenhum ser humano deve ser dono de outro ser humano. E isso inclui, marido e mulher – os maridos não são donos das mulheres. Em pleno século XXI ainda tanto por fazer, tanto a piorar, tanto sem saída...
"Eu sempre disse a Deus: 'Vou ficar com você, e você tem que me ajudar'.
Harriet Tubman
"Olhei para minhas mãos para ver se eu era a mesma pessoa agora que estava livre. Era uma glória tão grande sobre tudo, o sol vinha como ouro através das árvores e dos campos, e eu me senti como se estivesse no céu."
Harriet Tubman
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: A estraordinária história de Harriet Tubman, uma mulher que ajudou a libertar centenas de escravos no sul dos Estados Unidos após ela mesmo escapar da escravidão em 1849.
Diretor: Kasi Lemmons
Elenco: Cynthia Erivo, Janelle Monáe, Leslie Odom Jr.
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt4648786/