GOYO é um adulto autista, com espectro Asperger. Ou seja, essas metáforas verbais que vivemos fazendo, não “funcionam” com ele. Mas aparte essa questão quase pedagógica sobre a definição social do autismo, GOYO dá show de roteiro, direção e interpretação, numa abordagem muito particular sobre aceitação.
Afinal, nossas dificuldades estão ou não ficando cada vez mais enormes? Nossas “neuras”, mentiras, fingimentos, abandonos, silêncios não são talvez muito mais patológicos que a sinceridade de um Asperger? A quantidade de traumas que causamos não são em número muito maior do que um Asperger?
Nicolas Furtado se apropriou totalmente da funcionalidade de um guia turístico com Asperger para nos ensinar que eles nos veem como somos – imperfeitos e omissos – e ainda assim nos amam e perdoam. Nancy Dupláa dá show dessa nossa “normalidade” neurótica com textos incríveis, interpretação impecável, numa direção justa, sem floreios. O cinema argentino continua aberto para a abordagem de muito mais temas sociais que os brasileiros – prisioneiro ainda de sexo e violência social.
Doce, íntimo, objetivo, honesto – as qualificações poderiam ser inúmeras. Assistam o filme junto com a família, comentem, falem sobre preconceitos, agressividade, sofrimento – o filme é riquíssimo em momentos.
E por favor não percam GOYO – você vai se ver como talvez sejamos – neuróticos doentiamente pobres de espírito.
Vale cada minuto de filme.
Ana Ribeiro, diretora de cinema teatro e TV
O cinema argentino é sensacional. Me apaixono cada vez mais pela forma como utilizam o cinema para o bem da humanidade, com sentido educativo, sensível, moderno, terapêutico, com imensas reflexões sobre família, sobre relações.
E este filme, “Goyo”, é uma obra prima. Um roteiro espetacular, com atores muito bons, onde destaco Nicolás Furtado, Nancy Dupláa e Milo Zeus Lis. Nicolás Furtado, o autista, com uma construção de personagem impressionante, Nancy Dupláa, expressiva, intensa e Milo Lis, um menino com um desempenho tranquilo, intenso, muito verdadeiro. Que encanto!
O filme nos dá imensos conselhos, recados, deixando-nos no final com a sensação que nos achamos tão iguais, tão certos, tão direitos, tão normais, mas na maior parte das vezes, os aparentemente diferentes são muito mais verdadeiros, muito mais honestos, muito mais nobres, que só nos cabe a vergonha junto com as nossas mentiras, nossa falta de coragem, fingimentos sociais, etc, etc, etc.
Coisas deliciosas do filme, sem dar muito spoiler: o irmão dele é um fofo, as conversas são de verdade e do que realmente importa, é relembrado a todo o instante que autistas não ironizam – a vida é exatamente como ela é, as palavras também, os sentimentos também. Não deveríamos ser todos um pouco autistas? Para sermos mais verdadeiros e viver a vida real?
Os conflitos familiares, os medos de todos em relação à melhor forma de ser e estar, de proteger, de ser amigo sem sufocar, em relação a uma pessoa diferente, em relação a uma pessoa que achamos que vai precisar de ser cuidada. Não seria melhor ensinarmos essa pessoa a cuidar-se? A ser independente?
Talvez a cereja no topo do bolo seja mesmo a relação que Goyo tenta construir com a sua musa. Para poder assistir a algo para lá de belo, precisa mesmo assistir.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um jovem guia de museu com transtorno do espectro autista se apaixona por uma colega de trabalho e tenta descobrir como lidar com novas emoções intensas.
Direção: Marcos Carnevale
Elenco: Nicolás Furtado, Nancy Dupláa, Soledad Villamil.
Trailer e informações: