O filme é dantesco, brutal, em muitos sentidos. É muito importante que a gente perceba que a sociedade escreve e o cinema descreve. Aquilo que chamamos de ficção, pode ter sido fato em algum momento do tempo. Esse filme, por exemplo, se baseia em acontecimentos que nascem e se desenvolvem porque “as pessoas de bem obrigatoriamente têm mais dinheiro” (?). Suas deformidades, suas doenças emocionais, seus demônios, seu desprezo pela existência do outro são apenas “detalhes diante do brilhante futuro”.
Ver LA SCUOLA CATTOLICA, desde o início, com as marcas claras - escritas - de que faltam 4 meses para o fato, 130 dias, 3 meses, 36 horas para o fato, causam uma expectativa terrível porque você vê a crueldade nos olhos lindos e ricos de todos os meninos de bem, estudando numa escola masculina rica, com MACHOS por toda parte e toda a sorte de coisas que os machos fazem, sem que haja um real interesse em descobrir que espécie de grupo era aquele, já que socialmente todos “eram abastados demais para que perguntas fossem feitas”.
Veem semelhanças com o nosso grupo de riquinhos, dizendo a pessoas inglesas que elas não eram bem vindas no seu próprio País e mandando-as de volta (?) para a Venezuela? Claro que falando em inglês para que tudo ficasse mais (in)compreensível...
A visão de que a mente dessas pessoas está (é) deformada e que este é um processo que se desenrola pela sua vida é destruidor. Não é apenas o fato de que haja o mau líder, num momento frágil; é o fato de existirem tantas pessoas que estivessem prontas para desprezar, humilhar e agredir porque se sentem melhores.
Portanto, o filme conta uma história desprezível e assustadora que aconteceu há décadas; o problema, porém, é que a história desprezível e assustadora continua acontecendo e o machismo continua olhando para o lado e julgando a vítima, ao invés dos agressores.
Eu talvez nem quisesse indicar o filme, dado nível de estresse e violência, mas nós temos que falar desse assunto. Os homens precisam falar do assunto entre eles porque não é possível que continue instalada a percepção de que mulheres são pedaços de carne que falam. Nós sentimos. Muito. No caso do filme, o sentimento é mesmo de horror.
Creio que os pais deveriam tentar ver esse filme com seus filhos e terem conversas diferentes, dependendo do gênero deles. O gênero feminino – incluindo as mulheres trans - precisam de redes mais abrangentes porque é muito difícil viver sem confiar. E não podemos confiar. Precisamos de cada vez mais simpatizantes, por favor. Precisamos que todos se envolvam realmente em falar sobre isso.
Vejam o filme, comentem com a gente, façam parte do coletivo Bug Latino. Sem falar... não chegamos...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
Uma história verídica, em setembro de 1975, em Itália. Um acontecimento que gerou discussões e mudanças.
“Garotos de Bem”, não é para garotos. Filme incómodo, difícil, que a meio pensei que nem o íamos incluir nos filmes que indicamos aos domingos. Mas o final nos mostrou que devemos sim ver, devemos sim saber e devemos sim pensar em como é possível estas coisas acontecerem e o que devemos fazer para impedir. Perceber que liberdade é diferente de abuso, de exploração, de maldade, de doença, de ilegalidades. Adolescentes ricos, escolas religiosas, famílias de fachada, numa época marcante de Itália.
Excelentes atores. Uma narração reflexiva interessante. Um filme muito incómodo, para mulheres mais ainda, mas necessário. Saber para evitar, saber para proteger, saber para melhorar.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: No final de setembro de 1975, uma renomada escola católica em Roma para meninos abrigados de classe média alta é atacada no que ficou conhecido como o Massacre de Circeo. O filme examina o que desencadeou a violência.
Diretor: Stefano Mordini
Elenco: Benedetta Porcaroli, Giulio Pranno, Emanuele Maria Di Stefano.
Trailer e Informacões: https://www.imdb.com/title/tt10345782/