O filme, financiado pelos Clinton, fica como o último suspiro de uma esperança ainda vã: que o Afeganistão – e com ele, o Talibã - respeite minimamente a existência (e a coexistência) entre os gêneros.
Há alguma coisa que os homens precisam voltar a se perguntar e que Zarifa Ghafari questiona muito bem: No mundo não se veem mulheres-bomba, atacando as sociedades. Homens, o que há na sua relação com o mundo e as pessoas que lhes diz ser certo, razoável, aceitável, matar inocentes? E se fossem apenas talibãs, seriam eles os atrasados, mas alguém fazia ideia de que tantos homens perderiam o juízo a ponto de montarem bombas, queimarem carros e ônibus, virarem terroristas, bandidos, maníacos, aqui mesmo no Brasil-brasileiro, tudo isso por um homem? Tipo “beatlemania do mal”, naquela histeria coletiva que se joga no chão, canta, grita, baba, chora e ri? No nosso caso aqui, também marcha e manda mensagens astrais com a lanterna do celular...
Afinal, qual é o problema dos homens? EM SUAS MÃOS me fez girar em torno dessa pergunta por 1 hora e trinta e três minutos. Inutilmente. Não sei responder.
A insegurança quanto à capacidade do nosso gênero é cada vez mais evidente. As reações é que se transformam cada vez mais rapidamente em agressões, sejam quais forem.
Zarifa Ghafari, prefeita, política, é uma protagonista que não perde muito tempo com culpas. Larga para trás um homem que lhe foi sempre absolutamente fiel enquanto empregado, apenas porque “ele não cabia” no seu novo cargo e deixou seu povo para trás quando foi preciso. Mas, salva do inferno da debandada americana no Afeganistão e já em segurança na Alemanha, voltou. No final do filme, ficamos mesmo sem saber que espécie de heroína é aquela, gostando dela, mas sem a entender ou entender suas decisões e o timing para pô-las em ação.
Nesse momento do Brasil, o filme deveria ser exibido, discutido e ter levantadas relações de semelhança com esses homens – estes, os brasileiros – e no que estão se transformando. Hoje, da mesma forma que os talibãs, muito mais do que medo ou insegurança, a minha sensação mais importante com esse tipo de homem fraco é de perplexidade. Seja no filme ou na vida real, lá estamos nós do gênero feminino, meio que “atrapalhando” a performance dos homens – tosca e rude – apenas por levantar os olhos para fixa-los neles. É deprimente, afinal.
EM SUAS MÃOS traz imagens que todos vimos nos telejornais - e muitas outras. Com tanta encrenca que vivemos por aqui ultimamente, acabei por esquecer tudo o que vimos naquele momento e é imprescindível que os homens parem e pensem qual é o papel que eles querem ter no mundo, afinal. Porque como “vorazes protagonistas de uma histeria social” como essa que vivemos, eles repetem um assunto – sua barbárie - que já cansou. O super presidente-implicante e encrenqueiro, afinal era humano, medroso e chorão – nada mitológico, zero mito. Porque é preciso ser muito corajoso para ser pacífico. Para respeitar. Jogar bomba é para fracos, senhores! Antes de fazer filhos, tenham o trabalho de cria-los, pensem no futuro deles e sofram ao pensar que tudo depende disso que vocês são. E é isso mesmo. Só isso, aliás.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um documentário obrigatório.
“Em suas Mãos” mostra imagens inéditas e imagens conhecidas para quem acompanhou a transição e saída das tropas EUA do Afeganistão bem como de todo o caos que isso provocou. Mas o documentário também mostra como muitos meses antes já os Talibã estavam tomando conta do país, o que deixa a sensação de que os EUA vieram embora porque não estavam a dominar nada, a proteger ninguém e apenas a gastar dinheiro. Terrível.
Tem imagens dos lugares onde vivem os Talibã. Depoimentos secos, frios, com cara de boa gente. Não sei como alguém tem coragem de ir filmar ali, de os ouvir, de estar perto deles e não ter medo. Não se vêm nem mulheres. Parece um mundo só de homens. Assustador. Suas ideias, muito claras, simples, transformam a mulher numa coisa. Terrível para qualquer mulher assistir a este documentário.
No Doc acompanhamos a vida de uma prefeita de 26 anos, Zarifa Ghafari. Ser mulher no Afeganistão, ser uma mulher ativa, política e ainda por cima Prefeita de uma das cidades parece quase inacreditável. Zarifa Ghafari demonstra muita coragem, firmeza, persistência. É impressionante. Dá medo apenas de ver pelo écran, aqueles olhares de homem sem escrúpulos, sem saber respeitar nem perceber as mulheres. Vamos entendendo que ela é uma mulher que tem regalias, apesar de tudo com bastantes vantagens, mas mesmo assim, comparada com uma mulher europeia é absurda a diferença de liberdade, conforto, espaço de palavra, segurança. Um documentário muito impactante para mulheres e por isso obrigatório, obrigatório, obrigatório. Perceber e ver como as mulheres são tratadas nestes países, como são desconsideradas, me dá a medida incrível da sorte que tive de nascer na Europa e me dá a noção de como estamos regredindo. Ela e o noivo têm marcas nas mãos e pés de queimaduras severas mas nunca chegam a explicar a razão. Como referem que ela sofreu muitos ataques, imaginamos que são sequelas de algum desses ataques.
Tenho muita dificuldade em aceitar que mulheres possam ser ameaçadas e assassinadas apenas porque têm uma opinião, porque sabem falar, porque estudaram, porque têm ideias boas para todos.
É falado muitas vezes, a educação salva os seres humanos, os povos, o planeta. Mas esquecemos isso a todo o instante.
Que vida, que coragem, que mundo é este? Não se pode perder este documentário...
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Aos 26 anos, Zarifa Ghafari se tornou uma das primeiras prefeitas do Afeganistão e a mais jovem a ocupar o cargo. Filmado ao longo de dois anos e uma batalha pessoal pela sobrevivência enquanto seu país desmorona.
Direção: Tamana Ayazi, Marcel Mettelsiefen
Elenco: Zarifa Ghafari
Trailer e informações: