Todos somos um pouco católicos, seja qual for a religião que temos. A noção de Jesus e dos santos, anjos, o espírito santo, a visão mítica, os dogmas são todos parte de nós, creio eu. Por isso, a cada troca de Papa, há um envolvimento e, principalmente, um julgamento. Meio mundo torceu o nariz para o Papa Bento XVI – inclua meu nariz – e por esse motivo, o filme serviu para desanuviar minha impressão dele. Não para apagar; desanuviar.
Há uma inteligência viva no filme que é exposta através da nossa visão sul americana do mundo e da visão alemã e é exatamente a diferença de percepção que faz com que o ambiente se desanuvie e a gente vá gostando do Papa Bento XVI, “apesar do Bispo emérito da Diocese de Roma, Ratzinger”. O filme tem, portanto, tanta habilidade e delicadeza em apontar seus traços pra nós que valeria a pena ver, mesmo que apenas para suavizarmos um pouco a nossa rigidez de julgamento – já que ele nos parecia rígido demais, arrumado demais, distante demais para ter o nosso carinho.
A diferença de ritmo, de contato com as pessoas, nos apresenta duas versões possíveis para a percepção da responsabilidade de liderar um rebanho de mais de 1 bilhão de fieis. Para Bento XVI, um peso; para Francisco, uma missão.
Além de tudo, os cenários não poderiam ser mais mágicos, as culpas não poderiam ser mais humanas, as dores também não. Francisco e sua dor pela forma como viu a ditadura; Bento e a formalização excessiva das coisas. Duas pessoas diante da condução de pessoas. Bilhões delas. Um Papa desiste; outro dá tapas na mão de fieis sem noção, faz o que precisa ser feito para educar e pede desculpas porque ninguém é santo, afinal, por aqui.
Adorei o filme, a mensagem, as cenas, a direção firme. Adorei ter suavizado minha visão de Bento, ter entendido um pouco mais de suas culpas diante de ações que precisavam de culpados. Não que eu desculpe a ação de não punir rigorosamente qualquer padre ou pessoa envolvida de forma direta ou indireta em pedofilia – e isso está espalhado pelo mundo para os que gostam de apedrejar – mas eu entendi o que ele pensou. Se é verdade ou não, há uma norma divina onde todos serão julgados – então, ele também será.
Sem dúvida, uma obra imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Dois atores extraordinários. Um filme que parece uma forma de atenuar a imagem pública menos “simpática” do Papa Bento XVI, nascido Joseph Aloisius Ratzinger, atual Bispo emérito da Diocese de Roma. Também parece ter a intenção do Papa Francisco poder explicar a fase da sua vida que considera menos edificante e pela qual parece carregar alguma culpa. Tudo é colocado com sensibilidade e carinho para que o povo possa entender um pouco melhor tudo o que sucedeu. Também reforça aquilo que o público sempre viu: a forma sofisticada de vida do ex-Papa Bento XVI e a forma simples e humana do Papa Francisco. O Bispo Ratzinger (ex-Papa Bento XVI) era realmente difícil socialmente. Alemão, extremamente culto e extremamente amante dos luxos, como o detalhe dos seus sapatos Prada o demonstravam, mas muito pouco dado a se relacionar com as pessoas. Por outro lado, um argentino que ama a simplicidade, a terra, as pessoas, a vida como ela é para todos, sem exceção. Que assume suas fragilidades. Que pede desculpa por reagir “humanamente” quando alguém o agarra e “exige” agressivamente a sua atenção. Que, na Páscoa, lava os pés dos mendigos e dos sem-abrigo. Que fala de igual para igual com todas as pessoas. Que trouxe uma humanidade ao seu cargo que se tinha perdido com “Ratzinger”. Os líderes precisam ser humanos, reconhecer quando não se portam bem, aceitar que podem errar e nunca esconder seus defeitos. Nunca. Ou, atualmente não podem ser líderes no bom sentido da palavra. O líder já não é mais esse ser perfeito que nunca falha (aparentemente). Mas será sempre em quem se confia, se olha e serve de referência e de exemplo nos momentos em que o povo sente necessidade de um “exemplo”, algo onde se apoiar.
Um filme que também nos possibilita ver pela primeira vez um pouco do que parece ser a vida de um Papa e a vida no Vaticano. Luxo, solidão, responsabilidade. Um mundo inacreditável. Poder estar sozinho na Capela Sistina, apreciando aquele espaço, é algo que qualquer ser humano sonha.
Entre sapatos Prada ou uma fatia de Pizza, uma fatia de Pizza sempre. Entre o sofisticado e o simples, o que somos verdadeiramente está no simples. Papa Francisco é, nisso, um verdadeiro exemplo.
Um filme bonito, interessante, informativo. Imparcial, algo que todos os filmes sobre religião devem ser. Não esperava gostar tanto. Valeu a pena. Filme muito bom de ver.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt8404614/
Circuito de Cinema Saladearte
Netflix
O tema do filme "Dois Papas" não me atrai muito porque a Igreja Catolica tem permitido tantos abusos da parte dos seus docentes que se torna demasiado triste assistir a todas essas impunidades ...
E verdade que o Papa Francisco é diferente mas também teve "atitudes negativas" quando era bispo na Argentina , em tempo de ditadura e não so , mesmo se ele recnhece as suas falhas ...