É um DOC curto e está livre para que todos o assistam no YouTube. Talvez pelo fato de ser curto como uma reportagem especial, o filme é chocante. Por aquilo que em lampejos escusos vemos de nós, de quem somos; por vermos que 1960, século XX, País modelo no mundo – nada salva o poder de suas tentativas enojantes de “melhorar o mundo”, de “ajudar a limpá-lo”. E lá vamos nós no pensamento colonialista de países, empresas, big techs, políticos e suas políticas, mas sempre repetindo o pensamento onde existe um que está acima do outro, que é melhor e que pode, portanto, decidir com mais “lucidez” do que os outros – os piores.
Uma sinopse curta diria que a Dinamarca, por algum motivo insondável, na década de 1960, decidiu esterilizar as meninas da Groenlândia e que isso foi descoberto por uma das meninas – uma senhora hoje – que colocou essa questão no Facebook e recebeu muitas respostas.
Asquerosa e miserável de qualquer ponto de vista, toda a “evolução de pensamento dinamarquesa”, não foi até agora capaz de explicar ou justificar nada. E ver aquelas mulheres, todas da minha idade, 1/3 delas estéril, chorando pelos filhos que não tiveram, é tão dilacerante quanto ver os nossos meninos yanomamis morrendo de qualquer doença, de abandono, da doença de alguém achar que os militares podem ser melhores do que nós ou políticos ou políticas ou fazendeiros ou abastados. Estamos atolados nisso há séculos e séculos e nada nos tira da ilusão de que o poder pode tudo. Mas ver a lucidez das mulheres da Groenlândia, assim como vimos - e vemos - a lucidez dos indígenas brasileiros é uma dor atroz – mais uma.
Vale ver.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Uma frase me ficou: “...o coração deve ter importância nas decisões políticas...” Como somos capazes de fazer tantas atrocidades, justificando que é para o bem da sociedade? Como algo que faz mal a uma pessoa pode fazer bem a outras? Com que direito de decide pelo corpo dos outros? De jovens de 13, 14 anos? Sem nem explicar o que se fez, porque se fez? Me recordei da cloroquina e da forma altiva como o ex-presidente e seus seguidores, médicos incluídos, determinaram esse tratamento bizarro para a Covid-19. Eu por exemplo, se tivesse feito esse “tratamento preventivo” tinha morrido. Simples assim.
Estas mulheres merecem indenizações, merecem pedidos de desculpa públicos e individualizados e mesmo assim, todos os que decidiram esta atrocidade, precisam sentir alguma punição – nem que essa punição seja vir a público explicar porque se lembraram de fazer isto. Provavelmente com a ideia de diminuir a quantidade de povos que alguém decidiu que eram inferiores. Que gente somos, meu Deus!
Cenas muito silenciosas, comentários curtos mas cheios de intensidade e dor. Um povo que culturalmente não se queixa, falando sobre a sua dor e em frente a câmeras, é impressionante.
Documentário obrigatório. Documentário que estimula outras pessoas a fazerem documentários sobre as suas dores e injustiças. A sociedade cega precisa começar a ver a realidade.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Milhares de mulheres da Groenlândia tiveram um contraceptivo implantado em seus úteros nas décadas de 1960 e 1970 – e muitas vezes sem que soubessem disso.
Além disso, muitas delas eram crianças, e sofreram impactos físicos e psicológicos que marcaram suas vidas.
O objetivo da medida seria reduzir o crescimento da população groenlandesa.
Uma investigação do governo da Dinamarca, da qual a Groenlândia é uma região autônoma, irá analisar esse escândalo.
Mas neste documentário da série da BBC 100 Women, ou 100 mulheres, as próprias vítimas contam suas histórias e cobram respostas da Dinamarca.
Link do documentário completo: