Nos primeiros momentos pode-se pensar que é mais um filme americanóide, mas não tem nada a ver. Aguente firme porque a composição “ultra capitalista estressada” é importante na trama e tampona (tampa) dor, perda e medo – a estrutura das nossas vidas quando ela, de repente, vira a mesa, muda o jogo e nos coloca perdidos diante dela – o que acontece muitas vezes no curso das nossas vidas.
Julianne Moore está incrível, Michelle Williams está incrível, Billy Crudup está incrível - todo o cast é incrível. A trama envolve a sua mente com tanta intensidade que você se vê prisioneira dos acontecimentos, exatamente como Julianne Moore. E sente dor – a dor da impotência, principalmente.
O filme vale cada minuto, principalmente porque na nossa ilusão meio absurda de poder, planejamos os segundos que nos separam da segurança, do emprego que paga bem e cada vez que a vida chega e passa seu sopro sobre tudo, nossas verdadeiras “importâncias” voltam ao seu lugar.
Há amor e entrelaçamentos. Há dor e desencontros. Há vida em cada momento do filme – mesmo quando ainda não sabemos.
Para aprender, imaginar, projetar que a vida muda mesmo num clique, num segundo – vale à pena assistir. O filme é como meditar – jogue tudo fora e fique com o que você realmente sabe que precisa – vocês sabem do que precisam?
Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Fala da Índia, país tão particular pelas contradições que possui e que é sempre uma possibilidade de aprendizagem, mesmo em filme.
Fala do trabalho voluntário e do quanto pode ser encantador e humano. Como muitos se dedicam ao trabalho voluntário por terem mais possibilidades financeiras, outra disponibilidade humana, social, cultural, etc.
Fala de decisões difíceis, de passados, de mágoas, de atitudes humanas, de pessoas, crianças, da força que a vida tem para nos dar o caminho. Tantas vezes o caminho que não imaginávamos.
Em algum momento o filme nos diz que quando o nosso passado é duro, sofrido, podemos fechar os olhos e usar a nossa imaginação para buscar momentos calmos, serenos. A criação não tem limites na nossa mente. Quem sabe um dia os seres humanos conseguem fazer isso com os olhos abertos, quem sabe olhando uns para os outros. A imaginação e a criatividade de todos, somada, resolveria tanta coisa.
Um filme que no início achei que ia ser maçador, mas que depois surpreende. Eu diria que os atores e produtores, diretores de Hollywood contam as histórias que os emocionam e as histórias que os cercam. Este filme fala de situações frequentes, demasiado comuns a ricos e pobres. Tristemente com a diferença de muito menos dinheiro envolvido. Na vida real, você não tem dinheiro para viagens, nem para ficar em hotéis luxuosos para tentar angariar dinheiro para o seu trabalho. Você não tem o problema ético de decidir aceitar 2 milhões ou 20 milhões para a sua ONG, para ajudar crianças necessitadas. Você vive a vida real em que tem de ter criatividade e matar a fome de 4 pessoas com um ovo, como uma amiga me contou que ela tinha de fazer quando tinha 10 anos. E agora é uma excepcional cozinheira, uma pessoa incrível e “mãe da vida” de tantos e tantos “filhos”. Você precisa de conseguir lidar com os problemas que surgem, só que às vezes o problema é decidir se vive na Índia ou nos EUA, ou como faz comida boa e que alimente, com um ovo?
O filme também fala dos segredos entre pessoas e dos pactos que se fazem em determinados momentos. E do que cada um faz com tudo isso. É e será sempre um tema que me interessa particularmente porque no calor do momento, todos falamos e aceitamos e prometemos tudo. Depois, com a vida, os valores de cada um e seu caráter se intrometendo, vamos tendo muitas surpresas ou, melhor, muitas descobertas. E, este filme, para todos serve de exemplo. Por que o deve prevalecer será sempre o amor, o respeito, a verdade, ajudar quando se pode e se tem mais energia e condições do que os outros. Nunca, o que se vê muito, aproveitar que se tem a confiança cega das pessoas para aproveitar e se dar bem. Feio. Desumano. Vergonhoso.
Por último, o filme também nos avisa que as crianças, mesmo sendo crianças, merecem sempre saber a verdade. Assim como todos os seres humanos deveriam saber a verdade. Segredos e proteção de eleitos nunca deu bom resultado. Nunca dará.
Espero que tudo isto tenha sido suficiente para querer ver o filme. Por que deve ver.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt7985692/
Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha