Em tempos estranhos como estes, nada melhor do que voltarmos no tempo para podermos muito mais confortavelmente discutir gênero. Collete é um filme que acaba – e logo na primeira hora - com a ideia de que o “homem da casa” é o homem. Após a primeira hora, Collete se dedica a redesenhar na cabeça dos homens o que significa ser mulher, suas idiossincrasias, buscas e incongruências, demonstrando que na vida é bem melhor deixar a falta de nexo para os fofoqueiros que interpretam tudo e ficar com o nexo que existe em viver e procurar pela felicidade.
Durante as 2 horas de filme, Collete se dedica a buscar sua felicidade e a tentar entender um mundo estranho como era no século XIX, numa sociedade tão machista que era incapaz de ver o machismo, onde o fato “fálico” de se nascer homem explicava qualquer coisa.
O Brasil, já, já, ao começar a se reeditar, verá que as letras de vanguarda deixam sulcos muito mais difíceis de esquecer. E que bom que seja assim e de nenhuma outra forma porque como Collete, é inadmissível voltarmos atrás apenas por verniz social. E machismo é barbárie.
Nem os pequenos problemas de ritmo no início do filme atrapalham o conforto feminino da plateia. Aliás, a minha sessão tinha 99% do público feminino e foi uma glória ver, quando as luzes se acenderam, todos os rostos em sorrisos leves, algumas mulheres de mãos dadas entre si e ainda outras, de mãos dadas com a vida.
E que os homens nos aguardem: no século XXI, tem muito mais Colletes vindo por aí! Excelente filme. IMPERDÍVEL!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, televisão e teatro
Uma vida incrível. Uma pessoa incrível. Aceitar o que é a vida como a conhecemos, por vezes não nos completa e não nos faz felizes. E existirão momentos em que você vai sentir os ímpetos de procurar a felicidade que podem até se assemelhar a quando as pessoas estão no mar ou no rio e precisam de nadar numa direção diferente para respirar. Você não controla essa vontade, controla a forma de a procurar e satisfazer. Mas não controla o chamado. Collete é um exemplo disso. Por vezes demoramos a entender que não estamos bem, mas quando percebemos é hora de mudar. Hora de fazer o nosso caminho. Pode ser muito estranho para todos, mas será natural para nós. E, como Collete, fará bem a outras pessoas que não eram felizes, não tinham com quem desabafar. Pode ser um livro, uma palavra, uma conversa, um momento, em que você percebe que não está só ou que está na hora de ir, de fazer, de buscar.
O filme tem alguns problemas de ritmo e escolheu uma fase da vida de Collete. Como todas as vidas, muito mais haveria para dizer. É lindo de ver que Paris continua com a mesma beleza e história, hoje em dia. As imagens feitas no exterior mostram Paris de época e de agora porque é uma cidade eternamente linda e que ainda hoje respira a arte de pessoas como Collete e muitas outras que se encontraram na cidade e a transformaram num lugar único de criação.
Ana Santos, professora e jornalista
Site com informações do filme:
https://www.imdb.com/title/tt5437928/
Site Saladearte: