Uma comédia delicada, despretensiosa, com lances engraçadíssimos, mas que retrata como é difícil dar um passo além das diferenças. No filme, inclusive, a grande dificuldade não é da menina – a italiana, branca – é do menino – muçulmano, virgem, que não pode comer o que as outras pessoas comem, que não enxerga o motivo para ainda existirem casamentos combinados e que sofre por não poder beijar e namorar sua namorada ocidental “como um ocidental”, o que coloca luzes sobre a questão das “proibições e preconceitos” – desta vez religiosos - vistos por outros pontos de vista.
A menina é linda, aberta pra vida, falando claramente sobre as coisas e seus desejos. O menino – Phaim – engraçado, querido, fácil de se gostar, insiste em perguntar onde e como arrumar espaço para apenas ser jovem, se apaixonar e conseguir experiências – inclusive sexuais porque ele não as pode ter, o que cria diálogos hilários.
Vamos, não é um filme para Oscar, mas você sai tão mais leve do cinema... as vezes, um olhar simpático e a sua cordialidade pessoal são ferramentas poderosas de inclusão para todos – pense então na força do amor? Não há como não se deliciar com o filme. E aproveite pra começar a repensar conceitos e a vislumbrar a cordialidade como poderosa ferramenta de aceitação entre povos. E povos não são apenas estrangeiros; é inaceitável que São Paulo se sinta superior ao Nordeste. É inaceitável que o lugar que você nasça possa ser visto como superior ou inferior a qualquer outro lugar. Olhe para o lado e inclua, ao aceitar a diferença, aceitar que errou, aceitar que pode melhorar. Se dê a chance de conviver. É saudável e muito divertido, se você se permitir aprender coisas diferentes, provar gostos diferentes, culturas diferentes. Nesse sentido, o filme é imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Phaim Bhuiyan e Carlotta Antonelli, são bonitos, talentosos e muito fofos. Phaim conta a sua história e experiência de vida. “Um rapaz, de 22 anos, oriundo do Bangladesh, que vive em Torpignattara, nos subúrbios de Roma” (II). De uma família muito tradicional, vê e sente pecado em tudo que o faz feliz, vivendo num país com uma cultura totalmente diferente.
Cheio de ideias pré-concebidas (preconceitos), aprendidas na sua cultura e na sua família fica confuso e atraído por tudo o que era aconselhado a afastar-se e a evitar. Um filme muito engraçado mas muito importante por desmontar pecados e proibições, desconstruir preconceitos baseados nos boatos e nos medos do que é diferente.
Aborda os problemas de integração e identidade de uma forma muito engraçada o que permite lidar com o assunto de forma mais suave. Mas o assunto é preocupante no mundo inteiro. Nem todas as pessoas que nunca saíram do lugar onde nasceram podem dizer que pertencem inteiramente aquele lugar. Phaim nasceu em Itália, só pôde se naturalizar quando tinha 18 anos e foi educado apenas com a sua cultura e religião. Um brasileiro do nordeste que vai viver no sul, sente muitas vezes que está noutro país. Alguns são tratados como estrangeiros. Dizem que viajar é bom. Julgo que viajar nos dá a possibilidade de ver, viver e aceitar outras formas de vida e de comportamentos. Mas não basta viajar. É necessário aceitar o que é diferente e enriquecer com isso. Viajar para visitar povos que vivem de forma estranha para si e sentir-se superior e mais sábio depois disso, não é correto. Pense nisso quando viajar de novo.
A família italiana do filme representa um pouco a cultura europeia de aceitação, de liberdade, de abertura e vontade de crescer aprendendo, dando e recebendo. Porque a vida é uma troca não é uma competição. Tenho muitas saudades desse ambiente. Tenho saudades do meu Portugal, dessa porta aberta para todos e aceitação de todos como são que nossos pais nos ensinaram. Mesmo as pessoas que eles sabem que não os respeitam nem respeitam os filhos, recebem de sorriso e alma abertos. Sabem tudo e nada dizem. Aceitam. Porque não podemos ensinar os outros discutindo, mas podemos ensinar aceitando. Dando o exemplo.
Este filme me encantou pela simplicidade. Pelo exemplo. Phaim por vezes é motivo de chacota pela forma diferente de reagir de acordo com a cultura do País onde vive. Ele é confuso e complexo porque não sabe usar as melhores palavras daquela cultura. Precisamos tentar entender antes de diminuir a pessoa. A vida é uma troca.
Adorei, adorei. Adoro a música, a comida, a roupa, as cores, o jeito das pessoas a que pertence Phaim. Talvez o nosso lado do mundo os possa amaciar nas regras mais rígidas e eles nos possam ajudar em muitas outras coisas.
Não percam. Espetacular.
Ana Santos, professora e jornalista
I. Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt9639274/
II. 8 ½ Festa do Cinema Italiano
http://www.festadocinemaitaliano.com.br/filme/108
III. Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha