O que dizer? O que apontar? Porque o filme rouba todas as suas palavras desde a terceira ou quarta fala. Estamos finalmente assumindo que a discussão sobre racismo é necessária e já nos acostumamos a tê-las; isso é mau porque nos anestesiamos para o fato de que há um motivo real para que a discussão sobre o racismo seja necessária e estar acontecendo no mundo – ele existe e gera medo, insegurança, ansiedade e violência. Violência. Violência. O fato de que esses sentimentos existam ainda nas sociedades geram perguntas difíceis de fazer e engolir, mas o filme as faz. Todas.
Um elenco que poderia ser o de pandemia, tal seu tamanho reduzido. Um cenário que poderia ser o de pandemia, tal a sua pequena dimensão – tudo acontece num único e pequeno set. O único efeito cênico era a noite de chuva; pouca luz – pouquíssima. Toda a ação, toda a movimentação cênica – vejam bem, 100% do filme – foi baseada em ação verbal. Mas que interpretação... Colocaram apenas gigantes em cena – e eles foram verdadeiramente gigantes.
A sensação de amargo na boca você sente desde sempre porque intui que o racismo vai acontecer mais uma vez e ninguém vai conseguir impedir de novo.
As perguntas respondidas com outras perguntas - que levantam suspeitas sutis que não falam claramente de nada, mas expõem tudo. Houve um incidente. Incidente. Um incidente. Um ser humano parado pela polícia e tratado como suspeito, como bandido, como culpado pode ser chamado de “incidente”? Os assassinatos, as balas perdidas, a falta de condições mínimas de sobrevivência podem ser chamados de incidentes? Acidentes? Crimes contra a sociedade? Os negros são mais pobres no mundo por serem negros ou isso é mera “coincidência”? Eles são perseguidos pela máquina social, que precisa ter mandados e mandantes? Nós, que não discriminamos, podemos nos satisfazer em apenas viver assim ou precisamos dar um basta? Não ser racista ou ser antirracista? São coisas diferentes?
Sinta o mal estar da civilização – mais um, entre tantos na temporada “pandêmica” das nossas vidas.
Imperdível.
Temos que sentir algumas dores para impedir que mais pessoas as sintam.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um único cenário, uma trilha / banda sonora que te domina os sentimentos, excelentes atores, expressivos, que dominam a contracena. Um roteiro impressionante, que inclui os preconceitos sob todos os pontos de vista – espantosamente acutilante. Uma espécie de “teatro cinéfilo”.
Notícias preocupantes, noites chuvosas, pessoas com problemas de comunicação entre si, desencontros, mal entendidos e um mundo que se afunda. A vida de cada um com seus altos e baixos, problemas e superações. Quando de alguma forma a família ou uma das pessoas da família entra na vertigem ou centrifugação do mundo, tudo é posto em causa, tudo pode ser criticado, apontado, espezinhado. E a cor da pele, o gênero, o estatuto, a função, de que lado da situação cada um se encontra, divide radicalmente os comportamentos, abre uma vala para onde qualquer um pode escorregar, se desviar demasiado o seu discurso.
Um filme que não deixa você se distrair, nem por um segundo. Tenso, tenso. Expõe todas as feridas abertas que a sociedade insiste em fazer de conta que já não existem.
Por favor veja este filme e por favor pense em como pode fazer a sua parte. Por um mundo mais justo.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse de AMERICAN SON
Um casal afastado se reúne em uma delegacia de polícia da Flórida para ajudar a encontrar seu filho adolescente desaparecido.
Diretor - Kenny Leon
Roteiro - Christopher Demos-Brown
Elenco - Kerry Washington, Steven Pasquale, Jeremy Jordan e Eugene Lee.
Link com informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt9664078/
Vou assistir com olhar crítico. Como graduanda em Direito, vou analisar uma decisão justa no caso concreto. Obrigada Professoras Ana´s!