
Impactante. É impossível evitar a violência da falta de comunicação na vida de todos. O Bug Latino nasceu e se dedica a estimular a volta da comunicação verbal como estrutura social. Ver todos os momentos em que os meninos encaram a violência verbal, através de bullying, símbolos gráficos, abusos físicos é simplesmente terrível porque nós, os adultos, os velhos, os maduros, sabemos o nível de manipulação que a sociedade vem sofrendo, a falta de tempo e paciência dos pais, advinda da forma como as empresas e o poder público conseguiram nos imputar com cada vez mais tarefas, burocracias, falta de comunicação: aperte o 1 para x, aperte o 2 – e você passa 20, 30 minutos sendo estimulado a desistir, a esquecer a sua dúvida, o seu por que. E repetem isso em casa, ignorando o ambiente. Apenas tentando “desestressar”.
Uma produção impecável, filmada em plano sequência a maior parte do tempo, com atores também impecáveis, roteiro incrível, mote atualíssimo, cenas de intensidade de interpretação que as novas gerações não estavam alcançando.
O protagonista, Owen Cooper é brilhante, mas não está sozinho – o elenco foi escolhido com cuidado absoluto. Todos brilham. A cada minuto, alguém está dando um show de interpretação.
Sem nenhuma apelação ou cena de violência, ADOLESCÊNCIA nos coloca diante do espelho: o que estamos fazendo? Os governos realmente acham que proibir apenas o uso do celular - sem passar à limpo as perdas sucessivas de qualidade de vida das famílias, dos empregos, da segurança pública, do trabalho, para que deixemos de nos ver como um grande coletivo que precisa e exige respostas – vai resolver a questão da educação dentro da escola? Na sociedade?
A gente senta pra ver o primeiro capítulo e maratona a série inteira sem pestanejar, enquanto a cabeça fica a mil, fazendo todas essas perguntas indigestas. Vemos, cruzamos com jovens entediados, tristes, sem capacidade de envolvimento, nem maturidade física, emocional, linguística, com ódio e sem interpretar bem às situações. Todo o segmento feminino do mundo percebe o aumento da violência masculina, o ódio, a repulsa pelo crescimento da nossa resposta, frente a evolução do nosso gênero.
Estamos nesse mundo absurdo, onde o prefeito se atira e toma o microfone das mãos da apresentadora; um mundo abjeto onde o que não pode ser conquistado com nobreza, é objeto de mentira, fake News, inteligência artificial do mal, deep fake; onde se vê um estupro, se filma o estupro, o coloca nas redes sociais, mas não se liga para polícia denunciando-o. Um lugar desprezível, onde as meninas podem ser implacáveis com os meninos, que são violentos por sua vez, chegando com simplicidade ao assassinato – dado na TV como se fosse algo também muito simples – morreu, pronto. Pulou da janela fugindo do ogro primitivo com que se casou, foi tentativa de suicídio, estava com a saia curta, provocando os pobres machos, ela que olhou, ela que provocou, a bichinha era abusada, ela é quem deu em cima, quem mandou ser fácil. Quem mandou dar mole... É inesgotável.
Que espécie de educação machista se está dando? Como se resolver conflitos sem que as partes se sentem e discutam o problema, com a mediação de um adulto? Como as famílias insistem em achar que seus filhos estão seguros quando chegam em casa e ligam seus computadores?
O Bug Latino nasceu porque vimos o que estava acontecendo. Nos interessamos pelo que está acontecendo com as pessoas. Estamos tentando dar-lhes saídas. Pela palavra.
Assistam a série, de preferência todos juntos em casa, na escola. E entre um episódio e outro, falem, perguntem, observem se há algum desvio de olhar, aspereza inexplicável. Prestem atenção ao que está acontecendo e façam o caminho de volta. Nos sigam nas redes, no Instagram e no YouTube, sobretudo – podemos interromper esse processo louco de sofrimento. Juntos.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Tão espetacular quanto incómoda.
Amei e aconselho profundamente que assista, mas aviso já que não é suave em nenhum momento. Mas precisa ver, precisa saber, precisa ter uma mínima noção do que está acontecendo nas cabeças dos adolescentes.
Aborda múltiplos assuntos de família, de educação, de convivência, de vivência em contexto escolar, de meninos e meninas perdidos pelas escolas, pela vida, de famílias que fazem o que podem mas que pode não ser o suficiente. Aborda praticamente tudo o que pode escorregar para enorme problema na sociedade. Aborda códigos de linguagem e códigos de símbolos e emojis desconhecidos para a maior parte dos adultos.
Há muitas décadas que fazemos de conta que nada se passa, ou que pode até a sociedade estar pior mas na nossa casa não, nem com nossos filhos. Nem na nossa cidade, nem na nossa escola, etc.
Também parece que estamos todos escorregando no sentido de desenvolver nossos defeitos e problemas em vez de progredirmos nas nossas qualidades. Parecemos todos um pouco órfãos de carinho e atenção.
Este seriado é um aviso, um enorme aviso. Está na hora dos governos perceberem o aviso. Continuando assim, o caminho não é bom para ninguém.
Espetacular a forma como foi filmado, os atores são muito bons e particularmente o menino, Owen Cooper, é um caso sério como ator. Maravilhoso.
Inicialmente eu não ia ver porque não queria me incomodar, mas foi bom ter assistido. Todos devemos saber onde pisamos atualmente.
Não quero dar spoiler. Vou parar antes de deslizar. Veja.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um garoto de 13 anos é acusado de assassinar uma colega de escola, levando a família, a terapeuta e o investigador do caso a se perguntarem o que realmente aconteceu. Minissérie de televisão, de 4 episódios, 1h cada, para maiores de 14 anos.
Direção: Stephen Graham, Jack Thorne
Elenco: Owen Cooper, Stephen Graham, Ashley Walters.
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/pt/title/tt31806037/