
1928. E se não fosse Maria de Lourdes Sá Pereira deprimir, negar-se a comer, a sair de casa, não teríamos, nós as mulheres, iniciado mais essa carreira ali, naquela data.
Falando assim parece pouco, mas para cada pessoa do gênero feminino, esse documentário representa o tamanho da distância que ainda nos separa de um mundo onde, as coisas masculinas são fechadas para nós, num “Clube do Bolinha” insuportavelmente inflexível, imutável, mesmo agora.
A produção da RTP foi impecável, o trabalho, o dinheiro para a produção torna difícil que uma história não seja bem contada. E foi.
Tema sensível, produção caprichada, um português de Portugal falado calmamente, boa dicção, boa história. Claro que dá aquela sensação estranha porque, dado o fato de que não nos parece nada lógico que uma sociedade seja erigida em torno de um “apêndice masculino” que não interfere em nada, em nenhum trabalho socialmente aceito – temos que partir daí mesmo, não há outra escolha. Existem segmentos masculinos que temos que furar e isso é um sofrimento incompreensível.
A história de Maria de Lourdes é incrível, assim como devem existir outras histórias – de pilotas brasileiras – ainda não contadas. Talvez esquecidas.
Numa casa com mulheres, é obrigatório ver e ser acompanhada de homens para falarem do assunto. Num mundo onde se vai às seleções e não se vê quase ninguém que represente o gênero feminino nas equipes técnicas das confederações e mesmo de times, em quem pensa as TVs, pilotando aviões de carreira – isso entre outras coisas - ainda são filmes necessários, obrigatórios, eu diria.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Produção do canal público de Portugal – RTP, este documentário fala da primeira aviadora portuguesa e de como os mundos identificados como “mundos masculinos” são difíceis de atravessar para uma mulher. Eram e ainda são. Pensaríamos, pela lógica, que está muito melhor, já que falamos de 1928 como a data em que oficialmente Maria de Lourdes Sá Teixeira, voou pela primeira vez, mas atualmente existem 5 mulheres com esta função. Incrível.
Baseado em depoimentos, a direção cria movimento e vínculo com o espetador, com uma edição primorosa. Bonito, bem feito, cativante e com um tema extremamente interessante – mais ainda para mulheres – não damos pelo tempo passar quando o assistimos.
Pode ser visto de forma gratuita e, para isso, basta clicar no link abaixo.
Mulheres com idade de criança, de jovem, de adolescente, de adulta jovem, de adulta, de idosa, é obrigatório assistir.
É também quando vemos do que as outras mulheres são capazes que acreditamos em nós e em perseguir nossos sonhos.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: A história de vida de Maria de Lourdes Sá Teixeira, uma das muitas heroínas deste país, que teve a ousadia de desafiar todos os dogmas da época para conseguir ser piloto de aviação, tornando-se em 1928 na primeira aviadora portuguesa.
Direção: Leandro Ferreira, Jorge Sá
Link do documentário completo
https://www.rtp.pt/play/p14674/e835223/a-primeira-aviadora-portuguesa
Informações: https://www.rtp.pt/programa/tv/p47028