Vale ver os dois filmes juntos e poder comparar os comportamentos descritos. É impossível não sentir aquele asco que a gente tem diante dos seres primitivos, mesmo quando são extremamente inteligentes – basta que resolvam usar o que têm para o mal.
Quando eu ensino oratória, falo sempre de que há enorme importância na escolha de um ponto de vista que consiga traduzir a sua verdade e os filmes estão aí como testemunhas oculares do mesmo fato, visto por ângulos totalmente diferentes.
Saber um pouco da perícia e da condução do interrogatório do caso real, acaba que faz com que o espectador não se deixe levar pela história contada – já que uma pergunta te persegue: precisa quanto de amor pra você conseguir convencer seu namorado a chamar o irmão e, juntos, matarem seus pais debaixo de paulada e depois tentarem sufocar, afogar, matar bem matado, sem sombra de dúvida? Sem a doença da maldade, nenhum amor, certo? Então, o fato 1 é que o crime teve tantas qualificações por maldade que nem sei como a Suzane Von Richthofen conseguiu livramento condicional e não suporto a ideia de que o papel dela no mundo se cruze com o meu.
O fato 2 – pouquíssimo explorado no filme – nos coloca diante de como deve ter ficado a cabeça do Andreas. É muito difícil não enlouquecer diante de tanta miséria e articulação para o cometimento de crimes.
Gosto da fotografia e elementos cênicos e volto a apontar a questão da articulação e dicção como agentes de diminuição da qualidade da interpretação, mesmo partindo da opção de apoiar “o delírio” que descamba no crime em elementos psicodélicos, feita pelo diretor. Não justificam tanto exagero expressivo na face, nos gritos e na consequente perda do controle da interpretação de algumas cenas.
Terrível é também imaginar se a Von Richthofen e os Cravinho ganharam pra ceder os direitos da obra – se ela matou, foi por dinheiro, e este é um meio que não lhe deveria ser dado. E talvez, pelo conteúdo inteiro, eu sinta que faltaram informações dadas pela polícia que respaldariam a busca pela verdade – coisa pra qual o filme também deveria contribuir, dada a ignorância que vivemos neste momento do Brasil.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
Dois filmes, duas versões. Uma história verdadeira. Macabra. A realidade é inacreditável, mais uma vez confirmamos. Não sei se estas histórias que todos os dias surgem pelo mundo aumentaram ou se já aconteciam, mas agora as sabemos e com detalhe. Sei que precisamos de estar a par do mundo e do que os seres humanos são capazes, para sabermos onde estamos, para estarmos atentos e para sabermos por onde devemos ir e em quem confiar. No entanto, depois de saber e assistir a estas histórias sempre fico assustada com o que somos capazes de fazer.
Esta é uma história verídica muito famosa no Brasil. Tanto que virou não um filme, mas dois. Uma filha decide matar os pais, mas não usa suas mãos. O namorado e o cunhado fazem “o serviço”. Muito documentário, muita investigação, muito se sabe, muito se fala. O que parece unânime é a capacidade de manipulação, para dizer o mínimo, de Suzane von Richthofen. Todas as pessoas que a conhecem e lhe podem ser úteis, serão atingidas pela sua persuasão. Assustadora. Os dois filmes apresentam as duas versões dos culpados – numa, a filha acusa o namorado, noutra, o namorado acusa a filha. Mas esta história é muito mais rocambolesca, se quiser pesquisar pelo “senhor google”.
Bons atores, mas que ficarão sempre ligados a um papel marcante. As duas versões são óbvias e terríveis porque afinal em nenhuma existe a recusa de assumir a morte de duas pessoas de forma bárbara. Duas pessoas que são seus pais ou seu futuros sogros. Arrepiante. É mais suave assistir a um filme de terror.
Penso que é necessário pensar como se autoriza este tipo de filme. Filmes que deveriam ter seus lucros revertidos para clinicas psiquiátricas, para tratamento gratuito de psicopatas, sociopatas. Acusado de crime não deveria ter o poder de dar autorização, nem ter lucro sobre o que fez. Deveria existir legislação que permitisse fazer filmes mostrando um lado de alerta, de impedir que estas coisas se repetissem, com autorização de instituições de saúde mental e com percentagem elevada de lucros para o bem. Transformar estas pessoas em pessoas famosas é errado e perigoso.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Duas versões que envolvem os verdadeiros assassinatos de Manfred e Marísia von Richthofen, orquestrados por sua própria filha Suzane, junto com o namorado e o cunhado, os irmãos Cravinhos. No filme “A Menina...”, namorado acusa a filha dos assassinados. No filme “O Menino...”, Suzane acusa o namorado de ser o culpado.
Diretor: Mauricio Eça
Elenco: Carla Diaz, Gabi Lopes, Leonardo Bittencourt
Trailer dos dois filmes e informações:
Trailer “A Menina que Matou os Pais” (2021)
https://www.imdb.com/title/tt10605812/
Trailer “O Menino que Matou os Pais” (2021)