Como a mente de uma pessoa pode ser subvertida, ao ponto de você assistir um psicopata em ação, com pleno uso de justificativas que as redes sociais HOJE estão tentando colocar dentro das nossas casas – este é o roteiro de 22 DE JULHO – baseado em fatos reais, de um atentado real, onde uma única pessoa matou mais 70 e feriu mais de 200 – este é o roteiro forte e explosivo do filme.
Anders Danielsen Lie faz um vilão como poucos – e eu tive que corrigir ter-lhe colocado um “é” ao invés de “faz” pelo alto nível de sua interpretação e construção de personagem. Se chega a esquecer que é uma ficção baseada em fatos reais, tamanha a qualidade de seu trabalho.
Jonas Strand Gravli é também outro dos protagonistas, com grande atuação, mas toda a construção da trama, está mesmo nas mãos de Anders Danielsen Lie.
Prepare-se para odiar/odiá-lo ou odiar, odiando-o – a sua frieza é insuportável. Sabendo que de fato houve alguém assim e que a arte está imitando a vida, a sensação de descompasso é ainda pior.
Num País nórdico, cheio de “confianças” que não temos na SulAmérica, por exemplo: mandar centenas de crianças para um evento numa ilha monitorada com professores... quem faria isso no Brasil? – o filme nos remete para diferenças culturais importantes que eles têm, nós não e que deveríamos discutir, como segurança pública, a lei contra Fake News, que pune bandidos que entram na rede para destruir a cabeça das nossas crianças, mentir, ou mesmo conceituar pós verdade como algo que não seja falado, tomado e visto como mentira.
Os grupos de ódio precisam ficar mais distantes e 22 DE JULHO demonstra que o “charco-web” precisa ser entendido, para que possa ser combatido com vigor no mundo inteiro. No filme, a extrema-direita mostra bastante bem a sua cara bandida, o que pode servir de alerta para aqueles que ainda estão “buscando contato com ETs”, por aqui. A propósito: nazi fascismo é um movimento de extrema-direita, ok?
Imperdível, sendo terrível. Embrulha o estômago o sofrimento de tantas crianças, mas se os adultos continuarem virando o rosto pro outro lado, vamos continuar, na mesma medida, perdendo jovens. Engula em seco e assista.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
Um horror. Uma história verídica que está bem presente nas nossas memórias, num filme bem feito, bem dirigido, com excelentes atores, tentando manter a esperança no ser humano e marcando bem a diferença entre pessoas que não pensam nem respeitam os outros e as que sonham com um mundo melhor.
É terrível perceber como é muito mais fácil fazer o mal e perceber que, para controlarmos e impedirmos loucos como este, precisamos ter cada vez menos liberdade de ir e vir. Que a confiança no outro é algo cada vez mais difícil de existir. Que o ser humano está cada vez mais surpreendente – negativamente falando. Que o mundo está cada vez mais diversificado com tantos países em guerra e com pessoas desses países se tornando refugiados e que precisamos entender, aceitar e nos adaptar a essas mudanças.
Famílias desestruturadas e com pessoas desequilibradas emocionalmente podem ser lugares que facilitam o desenvolvimento de sociopatas, psicopatas, criminosos e que precisamos estudar, pesquisar e prevenir esses ambientes e esses resultados. Que a liberdade que se dá a um jovem precisa ter regras e margens limitadoras já que o mundo lá fora está cada vez mais cheio de possibilidades horrendas.
O mundo tem mudado muito e rápido e nós precisamos acompanhar, entender, para não sermos apanhados no meio do horror, nem virar o horror.
Filme imperdível pelo alerta que acende na nossa mente.
Ana Santos, professora, jornalista